João Pessoa e suas histórias: a Bica do Tambiá

Sérgio Botêlho – A Bica do Tambiá é parte de enorme importância material e afetiva para a história da capital paraibana, herdada, como tal, dos nossos primeiros habitantes: os índios

Até o final do século XIX, entrando pelo XX, o abastecimento d´água na Cidade da Paraíba era questão muito séria. Quanto à do saneamento básico, aí é que o infortúnio era grande! 

Tudo era feito a céu aberto, quanto ao destino dos esgotos, e as doenças decorrentes da precaríssima situação se alternavam de surtos em surtos. No quesito água, o provimento era feito por meio de burros e carroças de tração animal e humana, casa a casa.

JOÃO PESSOA E SUAS HISTÓRIAS

Não deve provocar espanto saber, portanto, que a água servida à população era, em grande parte, de má qualidade, piorando ainda mais o quadro sanitário. Há relatos dramáticos e horrorizados de viajantes que passavam pela capital paraibana naqueles tempos.

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Uma das fontes de água mais confiáveis de então atendia pelo nome de Bica do Tambiá que, por sinal, continua jorrando água muito boa no Parque Arruda Câmara, a tradicional Bica, apelido que vem exatamente da fonte mais que secular.

Como a referida mina de boa água, no caso, ficava longe de grande parte da área urbana da Cidade da Paraíba, naqueles tempos era impossível estabelecer uma logística capaz de cumprir com a tarefa de levar, a partir daquele local, água tratada e na quantidade necessária à população .

Porém, onde ela podia chegar, a satisfação com a qualidade desse elemento tão fundamental para vida humana era enorme. Afinal, não há quem duvide do atributo mineral da fonte do Parque Arruda Câmara, até hoje.

Mas, de onde vem o nome Tambiá para uma fonte de água tão importante para a história da capital paraibana? Quem lhe deu esse nome? O que está por trás do batismo que, por extensão, nomeia todo um bairro da atual João Pessoa?

Para responder temos de ir a tempos milenares, quando os indígenas que habitavam a região da Paraíba, em toda a sua parte litorânea, eram os tapuias. No entanto, por volta do ano 1000, segundo historiadores, tupis vindos da Amazônia se estabeleceram no litoral, expulsando os tapuias.

Entre os índios desalojados, estavam os Cariris, que passaram a habitar o interior da Paraíba. Mas, as refregas entre os dois agrupamentos indígenas tupis e tapuias, continuaram história afora, uma vez que não passaram a viver tão distantes, assim, uns dos outros.

Numa batalha travada entre Cariris e Tabajaras. do grupo Tupi, no tempo em que esses decisivos aliados dos portugueses na conquista da Paraíba já ocupavam parte do litoral paraibano, foi capturado o cariri Tambiá, ferido mortalmente na luta.

A ele foi dada uma ‘esposa da morte’, no caso, uma índia filha do cacique tabajara, ela de nome Aipré. O resultado é que os dois findaram se apaixonando e, após a morte de Tambiá, Aipré chorou inconsolavelmente, tendo suas lágrimas se transformado na fonte, que tomou o nome do índio morto.

Pois bem. Por tudo o que representa para a história da capital paraibana, e pela sua lendária origem, a Bica do Tambiá é um dos monumentos mais afetivos entre tantos outros com histórias que enternecem os contemporâneos e que ordenam física e espiritualmente a João Pessoa de hoje.

 

 

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