Hoje falo da atual Maciel Pinheiro, uma das primeiras e mais famosas ruas da atual cidade de João Pessoa. Pela denominação, ela celebra um jornalista e advogado nascido na Parahyba do Norte, mas que fez fama a partir do Recife. Abolicionista e republicano convicto, o homenageado ainda teve tempo de ver o ato da abolição da escravatura, mas não o da instalação da República, pois morreu 10 dias antes do fato. Portanto, em sua homenagem a importante via da cidade de Parahyba do Norte tomou-lhe o nome. Tendo perdido, para isso, a alcunha de Conde d’Eu (marido da princesa Isabel). Afinal de contas, em tempo de República não convinha uma rua daquela importância urbana e econômica continuar homenageando personagem da monarquia. E como não havia assim, falecida e de renome, tanta gente republicana na Paraíba, foi o Conde d’Eu substituído por Maciel Pinheiro.
Traçada desde os primeiros tempos da Filipéia de Nossa Senhora das Neves, a via ficou inicialmente conhecida como Rua das Convertidas. Consta que a Igreja tenha mantido ali um abrigo para as chamadas ‘mulheres públicas’ dispostas a mudar de vida. Ou seja, mulheres ‘convertidas’. Não obstante, nos anos 1800 residiram muitas famílias na rua das Convertidas, com destaque para docentes (professoras e professores), onde também funcionavam gráficas, abrigando inclusive jornais. Era uma das principais ruas da cidade, juntamente com a do Varadouro e a da Areia, na cidade baixa, e a Nova, na cidade alta.
Entre as denominações de Convertidas, Conde d’Eu e Maciel Pinheiro a rua foi virando um centro muito forte em termos de comércio, em função das mercadorias que desembarcavam no porto do Varadouro, ali vizinho. Nesse sentido, a Maciel Pinheiro ganhou mais notoriedade nos finais do século XIX na condição de rua do comércio, fama essa, a comercial, que manteve intacta até as décadas de 1960 e, mesmo, início da década de 1970. (Nesse período ficou muito conhecida ainda pelo que propiciava de vida noturna, especificamente pelos ‘cabarés’ que existiam nela e nas ruas vizinhas; essa, uma outra história.)
O comércio que mais se destacava na Maciel Pinheiro era basicamente voltado para a construção civil. De vendas em grosso. Um comércio que acabou bastante reduzido à medida que foi sendo transferido – em virtude do superlativo crescimento da cidade e, por conseguinte, das demandas industriais e da construção civil – para, entre outros, o trecho da BR-230 entre João Pessoa e Cabedelo. No entanto, por muitos de seus prédios, e principalmente por sua história, a Maciel Pinheiro continua na condição de uma das passarelas de destaque por onde desfilou grande parte do enredo pessoense.