Voos brasileiros estão proibidos de aterrarem em solo norte-americano, a partir da próxima sexta-feira, 29. Isso dá bem a dimensão de como a situação brasileira está sendo vista no Exterior. Nós, enquanto povo, somos perigosos aos olhos de um mundo consumido pelo pavor do coronavírus. É uma situação desconcertante.
No caso da decisão tomada pelo governo dos EUA, fica patente a classificação de nosso país como foco preocupante da pandemia. Principalmente em função dos desacertos e, até, desprezo olímpico de nossas autoridades federais para com a Covid-19.
Não deixa de ser uma situação trágica e cômica, ao mesmo tempo. Trágica, por um motivo que escancara o cinismo do outro lado: os Estados Unidos vivem um pandemônio de infectados ainda bem maior do que o Brasil.
Ora, de acordo com os dados de hoje, a terra de Trump atingiu um total de 1.635.192 casos, contra 363.211 casos, do Brasil. Lá, no norte do continente americano, são 97.599 mortos, contra 22.666, no Brasil. É grande a diferença. Mas, Trump pode ter mais informações do que nós outros sobre nós mesmos, por certo. Isso é o que nos desconcerta.
No entanto, complementando a linha da tragédia, não tomamos ainda, do lado de cá, a mesma posição com relação ao lado de lá. E não tomamos exatamente por qual motivo, é de se perguntar. Porque o nosso governo considera os EUA como aliados extremamente preferenciais.
Amigos?
Ledo engano. A decisão tomada pelo governo do presidente Trump demonstra cabalmente que não somos, para eles, tão preferenciais, assim. Bem acima da suposta amizade, estão os interesses da gente de lá. E de seus dirigentes.
E é nesse ponto que entra irresistível a parte cômica da tragédia. Se não vai avião para lá, como vem avião para cá. Não existe nenhuma empresa aérea que viaje para tão longe sem qualquer perspectiva de retorno, com passageiros.
Portanto, que o governo brasileiro tome logo a decisão de proibir, também, voos dos EUA para cá. Para os que temem afronta aos EUA, o temor não procede. Afinal de contas, estamos apenas decidindo sobre o que eles próprios já decidiram. Ou não?
Por último: depois dessa proibição de voos brasileiros em solo norte-americano, vamos continuar desprezando a nossa situação que é de tanta gravidade, segundo observa o Grande Irmão do Norte? Pense numa situação perturbadora!
(Sérgio Botêlho)