
Parque Sólon de Lucena: da Lagoa dos Irerês às artes de Burle Marx
Sérgio Botêlho – Contar a história do Parque Sólon de Lucena é passear pela própria história da atual cidade de João Pessoa. Expandindo-se, a partir do Sanhauá, a velha cidade de Parahyba do Norte encontrou grave obstáculo na Lagoa dos Irerês que, após solução urbanística, possibilitou o crescimento da capital paraibana.
Sabe aquela música de Genival Macedo, Meu Sublime Torrão, que fala dos ‘gansinhos’ na Lagoa. Pois bem. Antes dos tais gansinhos – convivendo com eles ou sendo eles próprios, na interpretação livre do poeta -, os habitantes originais daquele corpo d’água natural eram os irerês, uma espécie de marreca. Havia tantos que deu o nome ao local.
Irregular e sujeita a cheias que formavam pântanos, a Lagoa dos Irerês seguiu problema até a década de 20. Então, no governo (1920-1924) de Sólon de Lucena (1877-1926) virou parque público e começou a ser parte da solução ao crescimento urbano da cidade. Foi então que passou a denominar-se Parque Sólon de Lucena.
Argemiro
Contudo, foi no governo (1935-1940) de Argemiro de Figueiredo (1901-1982) que a Lagoa (como o referido espaço público é popularmente conhecido) tomou contornos mais modernos, inclusive com o paisagismo entregue ao internacionalmente famoso artista plástico Burle Marx (1909-1994).
Ao redor do anel interno da Lagoa, nas extremidades da calçada que rodeia o espelho d’água, Burle Marx plantou imponentes palmeiras imperiais. Nos espaços abertos entre os anéis internos e externos, o paisagista espalhou paus d’arco e outras árvores nativas da Mata Atlântica. E, ainda, um bambuzal a compor belo conjunto botânico de visual singular.
Campinense, de nascimento, alma e coração, Argemiro, no entanto, conviveu bem com a Lagoa em seus tempos de estudante do Lyceu Parahybano, no prédio onde hoje funciona a Faculdade de Direito da UFPB, no Jardim Público, hoje Praça João Pessoa.
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Última reforma
A última reforma pela qual passou a Lagoa aconteceu já na administração do ainda hoje prefeito Luciano Cartaxo, e deu ao espaço um contorno bem contemporâneo em virtude da construção de equipamentos e de passeios realmente importantes ao bem-estar público.
Porém, principalmente após a reforma feita por Argemiro e o belo paisagismo construído por Burle Marx, a Lagoa assumiu a posição de destacado cartão postal da cidade de João Pessoa, sendo o que mais representa a cidade em postagens nacionais e internacionais.
Infelizmente, em sua existência há tragédias. Algumas delas, muito perturbadoras. Entretanto, nenhuma dessas tragédias tem como culpa a natureza criada com a edificação do parque. Todas, sem dúvida, por culpa absoluta de irresponsabilidades humanas, servindo-lhes, a Lagoa, apenas como cenário.
Mas também se prestou a cenário para outros momentos bem diversos, como os de rebeldia da juventude. Ali funcionou, por um bom tempo, o Clube do Estudante Universitário (CEU), de grandiosa memória.
Certamente, a Lagoa é um dos mais belos recantos urbanos brasileiros. Em pleno centro de João Pessoa, constitui-se num espaço amplo e muito bem arborizado, que encanta e faz bem à alma e ao coração.
Enfim, quem for a João Pessoa e não conheceu a Lagoa não conheceu João Pessoa.
(Sérgio Botêlho)
FONTES:
Pertença e uso do espaço público: um passeio através do Parque Sólon de Lucena. Mauro Guilherme Pinheiro Koury
https://www.studium.iar.unicamp.br/19/06.html
Parque Solon de Lucena
http://www.de.ufpb.br/~ronei/JoaoPessoa/lagoa.htm
Parque Solon de Lucena
https://www.destinoparaiba.pb.gov.br/ondeir/parque-solon-de-lucena/
Argemiro de Figueiredo
http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/figueiredo-argemiro-de
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