
Sérgio Botêlho – Onde hoje está localizada a Praça 1817, até 1935, era onde existia a Igreja de Nossa Senhora das Mercês. Mais exatamente, a construção religiosa ficava no espaço entre os prédios atuais do Banco do Brasil e da Assembleia Legislativa. Ali, era o final da rua Visconde de Pelotas.
A antiga Igreja das Mercês pertencia a uma irmandade leiga. Segundo o padre Marcondes Silva Menezes, mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UFPB, a referida irmandade era formada por pardos.
A Igreja das Mercês antiga teve sua pedra fundamental lançada em 1729, sendo entregue em 21 de setembro de 1741. Isso, após muita esmola e ajudas diversas em virtude da pouca disponibilidade financeira da irmandade responsável pela edificação.
Irmandades
As irmandades de leigos encarnavam uma missão mais social do que o que normalmente fazia o chamado clero secular. Praticavam a caridade e seus membros se ajudavam entre si. E tanto eram formadas por gente da elite como por escravos e mestiços.
Conforme descrev

e Marcondes em sua dissertação de Mestrado, na UFPB, a Igreja das Mercês virou expressivo referencial urbano na Cidade da Parahyba. Então, destacava-se o largo que a antecedia (justamente o espaço da Praça 1817, hoje).
No entanto, em 1935, seguindo destino de outros templos pertencentes a irmandades de leigos na Cidade da Parahyba (igrejas do Rosário e Mãe dos Homens, que ainda serão abordadas em capítulos especiais) a Igreja das Mercês foi demolida.
Na justificativa oficial, e que foi assumida pela ampla maioria dos memorialistas e historiadores locais, pontificava apenas a necessidade de melhorar o padrão urbano da capital. Contudo, como sempre há os mais curiosos, e são eles os que terminam nos ajudando a compreender melhor a história, eis que Marcondes Silva Menezes conseguiu jogar luz sobre as trevas.
Desconstruir as irmandades
Na verdade, diz o clérigo e mestre da Academia, o que houve foi um entendimento estranhamento rápido, na época, entre o poder público, determinado a modificar o perfil urbano da cidade, e a arquidiocese, em desconstruir essas irmandades de leigos, e romanizar a Igreja, na Paraíba. Do lado do poder público, estava o prefeito Walfredo Guedes Pereira. Representando a Igreja, o arcebispo Dom Adauto.
Assim explicado, vislumbra-se o real motivo para os mui rápidos entendimentos entre o poder público e a Igreja, naquele momento, apesar de fortes reações da irmandade das Mercês, e de outros segmentos da sociedade, no que ficou conhecido como o Caso das Mercês.
A nova igreja
Embora a intenção primeira da Arquidiocese fosse a construção da nova Igreja da Mercês no bairro da Torre, a pressão da irmandade e da própria sociedade terminou por conseguir que essa nova construção fosse feita bem mais perto daquela que estava sendo derrubada.
E, assim, a nova Igreja das Mercês, concebida em forma de cruz, foi entregue em 1 de novembro de 1939, na descida para a Lagoa do Parque Sólon de Lucena. Não mais para ser conduzida pela irmandade dos leitos. Mas, pelo clero secular.
Mesmo assim, se constitui a Igreja das Mercês, na esquina das ruas Padre Meira e Treze de Maio, importante referência urbana para a atual cidade de João Pessoa. E que certamente se constitui em monumento de interesse turístico, além de religioso, em função de toda essa carga histórica de que está investido.
(Sérgio Botêlho)
FONTES
O processo de demolição e desmonte das Irmandades Religiosas na Cidade da Parahyba (1923-1935): O CASO DA MERCÊS” – Marcondes Silva Menezes – Dissertação de Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, área de concentração em História da Arquitetura e Urbanismo, sob orientação da professora Dra. Maria Berthilde Moura Filho.
https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/8316/2/arquivototal.pdf
As irmandades leigas
https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/as-irmandades-leigas.htm
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