1930: em Recife, o assassinato de um paraibano muda a história do país

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DICA DE LIVRO

 

Há 90 anos, ou seja, em 26 de julho de 1930, um assassinato mudaria a história da capital paraibana, do próprio estado, e do Brasil.

A vítima foi o presidente do Estado da Paraíba, o umbuzeirense João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, do Partido Republicano Conservador (PRC). 

Não só o assassino foi o advogado mamanguapense João Duarte Dantas, mas também pertencia a família inimiga política do líder morto, num episódio, para muitos, de motivação pessoal. Conforme garantem alguns historiadores, João Pessoa havia tornado públicas cartas íntimas e poéticas trocadas entre o assassino e sua noiva, a professora, poetisa e escritora Anayde Beiriz.

Portanto, Dantas teria jurado João Pessoa de morte, o que ele (Dantas) concretizaria caso Pessoa fosse a Recife. Apesar do juramento de morte, Pessoa foi, e o advogado cumpriu a ameaça. Dessa maneira, o que se seguiu à tragédia foi um forte e pungente clamor popular, principalmente na capital, com profunda repercussão na política paraibana e brasileira.

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A República Velha

O Brasil vivia o período histórico classificado pelos estudiosos pósteros como da República Velha. Assim, havia forte influência das oligarquias, ao lado de expressivo descompromisso com a democracia e com os direitos humanos. A República Velha compreende o período que vai da proclamação da República, em 1889, até a Revolução de 1

1930: Funeral de João Pessoa, no Rio de Janeiro
1930: Funeral de João Pessoa, no Rio de Janeiro

930.

A República Nova

Com efeito, a partir de 1930, instalou-se um novo modo de fazer política e de encarar a economia. Chamou-se o período em geral, que vai de 1930 até 1945, de República Nova, inaugurada com a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. 

Entretanto, o período derivou para uma ditadura, em 1937, e findou com um novo processo de redemocratização do país, após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. O comandante maior desse período foi o gaúcho Getúlio Dornelles Vargas.

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A morte de João Pessoa

A saber, a história é feita por meio de fatos principais e secundários. O ódio particular de Dantas a João Pessoa – que, em sendo verdadeiros os relatos, são plenamente compreensíveis – é, no caso, um fato secundário.

Também é possível dizer que o crime não foi totalmente desprovido de lastro político. Afinal de contas, os Dantas, juntamente com os Suassunas e os Pereiras (de Princesa Isabel) eram inimigos políticos do presidente da Província.

Portanto, a divulgação das cartas íntimas de João Dantas e sua noiva, Anayde Beiriz, foi, principalmente, um ato político. Apesar de tudo o que ele tem de condenável, independentemente dos valores vigentes na conjuntura em que ocorreu.

O que importa anotar de principal no assassinato de João Pessoa é que ele (o fato) mudou a história da capital paraibana (que de Parahyba do Norte passou a se chamar João Pessoa), mexeu com a história da Paraíba e modificou a história do próprio país.

O emocional

Não é incomum, na política, seja para que lado ideológico ela se mova, a utilização de episódios desse tipo, explorando-lhe o lado emocional para impor posicionamentos ou mesmo buscar mudanças conjunturais. 

Ora, o paraibano João Pessoa havia sido o vice do gaúcho Getúlio Vargas, na campanha presidencial de 1930, chapa derrotada pelo paulista Júlio Prestes, e que tinha como seu vice o baiano Vital Soares. Prestes era apoiado pelo presidente da então República dos Estados Unidos do Brasil, o fluminense, mas que se considerava paulista, Washington Luís

Como se sabe, uma eleição que foi amplamente questionada pelos perdedores, e, por conseguinte, loucos por um acontecimento tipo a morte de João Pessoa para deflagrar uma rebelião nacional. 

E foi justamente o que aconteceu, pois a chamada Revolução de 30, inflamada pela morte do paraibano e apoiada por uma população insatisfeita com os rumos da economia, depôs Washington Luís, e colocou Getúlio em seu lugar.

Julgamentos

Quanto ao caráter dos personagens envolvidos e as razões de cada um na política paraibana da época, isto é, e continuará sendo, objeto de abordagens divergentes e, com certeza, apaixonadas, 

Contudo, é absolutamente verdadeiro dizer que a morte de João Pessoa foi o mais forte acontecimento da história da Paraíba, até os dias de hoje, exatamente porque foi o único que conseguiu mudar a própria história do país. Definitivamente, nenhum outro teve amplitude semelhante.

(Sérgio Botêlho)

Repercussão I

A moda de viola “A Morte de João Pessoa”, transcrita na sequência, da autoria da dupla caipira Zico Dias e Ferrinho, nascidos em Piracicaba-SP, expõe o sentido que tomou a morte do presidente do Estado da Paraíba na opinião popular do país, em 1930.

Pra cantar essa modinha

Licença se eu penso primeiro

Pra contar de certo causo

Que houve c’os brasileiro

 

João Pessoa morreu

Mas deixou recordação

Os tenente de Isidoro

E ódio de Washingtão

Mas o povo revortado

Ai, fizeram revolução

Ai, ni narai

 

O mundo inteiro abalô

No dia que ele morreu

Os lugar se infumaciô

Nem o sor apareceu

Mas o Brasil revortô

Ai, por perder um filho seu

Ai, ni narai

 

Viva ai Juarez Tavóra

Esse oficiar revortado

E viva esse grande exército

Desse Brasir afamado

Ai, nós estamo vingado

Ai, ni narai

 

Ai, quem matou João Pessoa

Que cumpriu esse mandado

Mas, o povo revortaro

E mataro esquartejado

Pela notícia que corre

Ai, que jornal tem me contado

Ai, ni narai

 

Viva ai Juarez Tavóra

Que do norte é o primeiro

E vida Isidoro Lopes

Que é um grande braileiro

O generar Miguer Costa

Ai que é da terra dos violeiro

Aí, ni narai

(*Letra de moda de viola incluída na dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Mestre em História, por Camila Koshiba Gonçalves, sob o título “Música em 78 rotações. ‘Discos a todos os preços’ na São Paulo dos anos 30)

Repercussão II

Hino a João Pessoa

Lá do norte, um herói altaneiro

que da Pátria, o amor conquistou

foi um vivo farol que ligeiro

acendeu e depois se apagou

 

João Pessoa, João Pessoa

bravo filho do sertão

toda Pátria espera um dia

a sua ressurreição

 

João Pessoa, João Pessoa

o teu vulto varonil

vive ainda, vive ainda

no coração do Brasil

 

Como um cedro que tomba na mata

sob o raio que em cheio o feriu

assim ele ante a fúria impensada

de um feroz inimigo caiu

Composição de Eduardo Souto (paulista, de São Vicente) e Oswaldo Néri Santiago (pernambucano, do Recife) segundo a Wikipédia. A letra da música foi copiada do site Vagalume.

(Sérgio Botêlho)

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