Vacina ou morte como opções a uma humanidade ameaçada

Sérgio Botêlho – Estava eu posto em sossego, no sábado, após nove meses de quase absoluta quarentena (tirante as obrigatórias feiras e farmácias), e eis-me, por motivos familiares e certo impulso pela liberdade, na mesa de um bar. 

O primeiro choque que tive – embora já esperasse – foi constatar a presença, no mesmo recinto, de grande número de pessoas. Algumas, como nós, convenientemente distantes entre si, buscando preservar máscaras, entre um gole e uma mastigada ou outra, e a utilização de álcool a 70% nas mãos, se acomodando em mesas mais isoladas.

Permissão

Como se sabe, tudo isso está oficialmente permitido na capital do país por ato do governo local, atendendo o clamor de comerciantes. Mas também é preciso dizer que os fregueses de bares e restaurantes contribuíram, pressionando em favor da liberação.

Sabia que a liberação estava plena – e, até por isso, me convenci a ir – mas, a visão daquele ambiente boêmio, diante das notícias sobre a pandemia reforçada, nos últimos dias, confesso, me deixou estarrecido.

Enquanto outras pessoas que nem as de nossa mesa se esmeravam em manter, no que lhes fosse possível, as regras sanitárias, uma mesa, a certa distância, confraternizava em alegria contagiante (desculpe o trocadilho!).

Nem parecia que o Brasil se aproxima dos 200.000 mortos, e que a quantidade de infectados voltou a apresentar números crescentes. Cânticos e abraços mil, à medida que o álcool das bebidas iam subindo às cabeças, se ampliavam em tom e frequência.

O mundo

Pelo mundo afora, na mesma medida em que crescem os contágios e mortes, outra vez, na chamada segunda onda – já existe até quem fale em terceira -, multiplicam-se os movimentos contrários aos isolamentos.

Alimentados por setores, à direita, de extrema orientação oportunista, esses movimentos de massa, mais comuns na Europa e nos EUA, confrontam, com ameaça de violência, os mais embasados estudos científicos que mostram o incremento da pandemia.

Importante assinalar que não há nada mais incongruente do que o casamento entre os mais intrínsecos sentimentos de liberdade humana com o que esses agrupamentos extremistas têm de mais recôndito em suas crenças, que é justamente a negação da liberdade.

Justificam seu pensamento anti-quarentena e anti-ciência, num plano supostamente ancorado na necessidade de funcionamento da economia, tese já amplamente derrotada por especialistas, em função dos prejuízos econômicos justamente advindos de um combate sanitário menos efetivo à pandemia.

Liberdade

Porém, o desejo de liberdade alimentado pela população, cansada das ‘prisões domiciliares’, é um fato incontestável, favorecendo os arautos da negação embalados por possíveis ganhos políticos decorrentes das manifestações populares.

A imensa algazarra daquela mesa um pouco distante da nossa – depois viemos a saber que era formada por atletas, veja só! -, revivendo os mais entusiasmados momentos anteriores à pandemia, era bem uma amostra do amor do povo à liberdade e ao direito à felicidade.

A vacina

Tudo isso somente revela a premente necessidade de que a vacina (ou as vacinas) contra a Covid-19 venha a mostrar sua cara e eficiência, suprimindo, enfim, a circulação do vírus entre os humanos neste início da década de 20 do Século XXI.

Obrigatoriamente, é preciso que haja o mais absoluto rigor científico na aplicação dos testes e na liberação dessas vacinas. A pressa não pode ser sinônimo de falha na eficácia do remédio preventivo, colocando a população sob novos e imprevisíveis riscos.

Porém, às vacinas atestadas devem ser celeremente adotadas pelas autoridades, com aquisição o mais rápido possível. Não é admissível que haja, mas, de jeito algum, preferências ou rejeições políticas às vacinas aprovadas pelas instâncias científicas, venham de onde vierem.

Ao induzir o organismo a produzir anticorpos contra o coronavírus, ao mesmo tempo em que a vacina nos defende da doença, pessoal e coletivamente, também nos livra da falta de liberdade, que tanto vem atormentando a humanidade.

Noutro sentido, acaba por fortalecer a ciência, tão vilipendiada pelos extremistas, ao mesmo tempo que nos liberta dessa gente que, graças a Deus e à verdade, vem experimentando algumas derrotas essencialmente benéficas ao futuro da humanidade.

É vacina ou morte!

 

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