Turismo: A hora é essa! Diante da enorme crise, o setor tem de começar a planejar o pós-pandemia, no chamado novo normal
Tenho lido muito sobre o que pode significar o novo normal. E, entre essas leituras a que mais tempo dedico é sobre o turismo. Importa-me saber o que estão pensando os empresários e dirigentes do setor. Principalmente por conta do prejuízo quase total do turismo frente à pandemia. Dessa forma, atingindo todo o segmento, de empresas aéreas, marítimas e terrestres, a hotéis e restaurantes, passando por toda a corrente de mais de 50 segmentos econômicos impactados pela economia turística.
Pelos dados de abril, sobre março, intensificada a pandemia, no Brasil, o setor turístico registrava perdas de R$ 11,9 bilhões. Isso na prática representou queda de 84% no faturamento do setor, em comparação com igual período no ano passado. Os dados são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) publicados pelo jornal Valor Econômico.
Por outro lado, o transporte de passageiros ao mercado internacional caiu 98,13% em março, diante do mesmo mês de 2019. Isso, de acordo com informações da Associação Brasileira das Empresas Aéreas. A oferta recuou 96,42% na mesma base de comparação. O aproveitamento dos aviões teve redução de 40,53 pontos percentuais, para 44,25%. Ao todo, foram transportados 9.210 passageiros, queda de 98,70%. Novamente, os piores desempenhos mensais para esses indicadores desde 2000.
Novo normal
Neste momento, ainda não é possível vislumbrar, com precisão, a saída da crise sanitária que assola o mundo. Mas, é possível avaliar a situação procurando desenhar alguma coisa do que pode vir a ser o novo normal. Isto é, como vai se comportar o setor turístico na realidade pós-pandemia. Aliás, uma preocupação que vem movimentando os mais diversos setores da economia – assim como, da política – visando antecipações necessárias. Portanto, se não é possível executar, já, a palavra de ordem é planejar.
Há quase um consenso, por exemplo, de que o turismo, no pós-Covid, vai ser bem mais nacional. Turismo internacional será difícil ser retomado. Os preços das passagens aéreas irão às alturas (sem trocadilho). Decerto, porque os aviões devem reduzir o número de cadeiras para aumentar a distância entre elas. Portanto, com reflexo direto nos preços das passagens. Mas também, os controles sanitários nos aeroportos vão ser mais rígidos, e, dessa forma, mais caros. Além do que as barreiras nacionais a estrangeiros serão cada vez mais exigentes.
Então, o turismo vai ser nacional. E, mais do que isso, bem mais regional. Assim, por perto de onde se mora. Na última quarta-feira, dia 20 de maio, por exemplo, houve uma videoconferência promovida pela ABRATI – Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros. No centro dos debates, representantes do turismo e da hotelaria debateram qual seve ser o novo cenário pós-pandemia de Covid-19.
Turismo regional
Nesse sentido, a meta será de viagens mais curtas, com distâncias menores, descrevendo aí a aposta no turismo de proximidade. A conclusão foi praticamente um consenso. Além de mais baratas – afinal, as pessoas de maneira geral perderam renda com a crise –, as viagens tenderão a ser intimistas, com base em destinos seguros. Portanto, avaliam os participantes, o turismo internacional, demorará muito mais tempo para se recuperar. E, certamente, acabará sendo substituído pelos destinos brasileiros, que têm a oferecer uma perspectiva de Ecoturismo rica e diversificada.
Como se vê, começar a haver certo entendimento de que os destinos nacionais, para os brasileiros, terão preferência aos internacionais. Eis um ponto de partido. Agora, cabe ao trade turístico junto com os governos federal, estaduais e municipais iniciar o debate. Principalmente no sentido de fortalecer os destinos brasileiros, no sentido de tornaram-se mais atrativos e mais baratos para atrair os próprios brasileiros. Mãos à obra!
(Sérgio Botêlho)