
Sérgio Botêlho
Uma das ameaças mais fortes e eficazes às crianças pessoenses nas décadas de 50 e 60 era Pindobal. “É bom estudar senão você vai para Pindobal”, diziam os pais, estabelecendo um verdadeiro estado de pavor a quem se revelasse preguiçoso para o estudo.
A chantagem acabou criando, sobre a Escola Correcional de Pindobal e o adjacente Abrigo de Menores Jesus de Nazaré, imagem de verdadeiro campo de concentração onde só deviam existir anjos do mal.
As duas instituições funcionavam no município de Mamanguape, na Fazenda Pindobal, que tem esse nome, certamente, por conta de abundante existência, no local, de palmeiras chamadas pindobas, nome dado pelos índios.
Era um horror! O nome Pindobal estabeleceu-se entre a criançada como algo na categoria de um verdadeiro inferno, onde crianças eram colocadas para sofrer, sem parar, apenas por não se disporem ao estudo.
Quem, durante certo tempo, dirigiu Pindobal foi o tenente Lucena, figura extraordinária e sobre a qual já dediquei um desses artigos sobre as memórias pessoenses publicadas aqui nesse espaço do Facebook.
Pois bem. Quando publiquei a memória do Tenente Lucena, tive o prazer da participação, por meio de um post, da amiga, também deste Face, Rosa Virgínia Lins, que, justamente, havia sido aluna do Abrigo de Menores Jesus de Nazaré, e pegou o período da direção do tenente.
Depôs, Rosa, naquele momento: “Concordo em tudo descrito ….episódio a parte…como interna do abrigo de menores Jesus de Nazaré onde tivemos oportunidade de cantar em um coral criado por ele {Tenente Lucena}, contávamos os dias para os ensaios pois nos trazia grande alegria…nos ensinou muito e até criou um meio empolgante de falar cantando nome da instituição nos dando prazer era assim ‘Abrigo de Menores Jesus de Nazaré xiiiiiiiiiiii doooooo’ era só alegria aqueles momentos…”.
Bom. Vocês estão vendo que o cenário de Pindobal não devia ser exatamente o que os pais daquela época pintavam a respeito, se constituindo em abrigo a histórias de pessoas que acabaram tendo, ali, fortes experiências de vida. E mudaram seus futuros.
E, vejam só, encontrei na maravilhosa Internet um manifesto bem recente da autoria de pessoas vinculadas a uma ONG, de nome Pindobal, em Mamanguape, se colocando contrárias à criação, pelo governador Ricardo Coutinho, de um sistema prisional na Fazenda Pindobal.
“Aquele lugar tem história em nossa cidade, onde diversas pessoas de lá saíram e conseguiram uma vida digna”, apelam os signatários da carta, em determinado trecho, revelando o carinho com que Pindobal é tratado pelo povo mamanguapense.
Decorre da argumentação a certeza da existência de muita gente de bem, hoje, a exemplo da amiga Rosa Virgínia Lins, com fortes e positivos depoimentos a serem dados, em função da vida encaminhada ou reencaminhada nos bancos de PIndobal.
Creio, mesmo, que aquela experiência, que nos foi tão mal transmitida, um dia, possa receber cada vez mais apoio das autoridades, e, quem sabe, servir como belo argumento para um filme de elevado perfil artístico-educacional.
Pindobal, em Mamanguape, é memória pessoense, também.
Comentários postados no Facebook
Djair Lima: Gostei muito desta mensagem
Marcos Ubiratan Guedes Pereira: Ai nos anos 40 existia um furgão da polícia, todo preto, do qual diziam ser responsavel por levar todo menino apanhado brincando na rua para Pindobal. Nem precisa dozer o medo que causava , alem da carreira ao menor sinal da ” Viuvinha” , nome pelo qual era conhecido.
Walkyria Natália Guedes Pereira Vasconcellos: Marcos, este nome Jandira Mesquita lhe diz algo, relativo a Pindobal?
Marcos Ubiratan Guedes Pereira: Nao. De Pindobal eu so sabia que era uma prisao para meninos apanhados nas rua pela “Viuvinha” da policia.
Sergio Botelho: Conheci muito Jandira Mesquita. Da Reitoria.
Sergio Botelho: Mas, minha memória não liga Jandira a essa história…
Claudio Pereira: Pindobal chegou a formar até médico.
Claudio Pereira: Duas viaturas que assombravam os parcos marginais da época. Viuvinha e RP.
Rosa Virginia Lins: Pindobal teve várias histórias de crianças que saíram do Jesus de Nazaré para Mamanguape o exemplo mais atual o diretor atual é João Batista (agrônomo) egresso do Jesus de Nazaré e Pindobal …qd criança órfão ele e os irmãos acolhidos pela instituição…
Sergio Botelho: Rosa. Você, por acaso, teria alguma foto da época? Gostaria de incluí-la no livro. Abraço, e um feliz 2018 a você e sua família!
Lucia Menezes Fremder: A hei materia espetacular e como falo naquele tempo que. muitos achava ruim e vejo que o ruim pra muitos era a diciplina a ordem o respeito e a moralidade que existia as escolas publicas fucionava como este lugar que vc fala Pindobal era mais um lugar pra comcertar criancas preguicosa achei massa mais um escrito para meu livrinho beijo (vc sabe o nome da minha filha do meio foi dado por vc Janayna )
Sergio Botelho: Beijo, Lúcia. Obrigado pela lembrança! Uma excelente lembrança!
Leda Souto: Eu lembro desse lugar de ouvir falar. Um irmão chegou a ser mandado para esse lugar e fugiu kkkkk
Byra de Jacuman III: Excelente texto e esclarecedor, tirou me a imagem de campo de concentração holocausto paraibano
Walkyria Natália Guedes Pereira Vasconcellos: O que ouvi, através de meu pai,era que essa Escola.tinha muita disciplina, ordem e que reequilibrava jovens.Se não me falha a memória,essa Sra Jandira Mesquita era a responsável pelo bom nível . Posso estar me Referindo a um tempo diferente do seu texto
Walkyria Natália Guedes Pereira Vasconcellos: Sérgio Botelho tenha um bom 2018
Sergio Botelho: Muitas felicidades, paz e saúde, Walkiria, e para toda a família.