
Sérgio Botêlho
Na Semana do Exército de 1975, na véspera do Dia do Soldado, uma tragédia que matou 29 crianças afogadas na Lagoa do Parque Solon de Lucena abalou a sociedade pessoense e repercutiu no Brasil inteiro.
Naquele 24 de agosto, havia uma exposição do Exército na Lagoa, com tanques e armas pesadas. Na Lagoa, uma balsa, originalmente destinada a carregar equipamentos militares, transportava gente para um passeio na lagoa.
Superlotada, em uma de suas viagens, o barco acabou afundando, resultando na trágica morte das 29 crianças. Ao todo, morreram 35 pessoas, entre as quais, um dos bombeiros salva-vidas e uma moça que buscava salvar afogados.
O fato, que procurou ser escondido do noticiário pelas autoridades responsáveis pelo evento, é a existência de muito mais gente do que na balsa cabia, começando a submergir tão logo se afastou da margem.
Esses detalhes, por força do regime autoritário que vigiava o país, não puderam, em sua inteireza, serem convenientemente divulgados, e, de certa maneira, a culpa acabou sendo transferida para as vítimas.
Sugeria o comunicado oficial que uma movimentação emotiva dos ocupantes da barca, diante dos gritos de que havia um início de afundamento, acabou levando todos para um mesmo lado, resultando na tragédia.
Jornais e rádios paraibanos acompanharam os resgates, ao vivo, com farto material fotográfico e relatos de sobreviventes e familiares de vítimas fatais dando depoimentos lancinantes sobre aquela desgraça.
Naquele ano, como bem lembra o jornalista e escritor Gilvan de Brito, amigo de longas datas, em reportagem publicada no PB Agora (nos 40 anos da tragédia, em 24 de agosto de 2015), não houve o tradicional desfile de Sete de Setembro em virtude da forte comoção popular instalada.
Inexplicavelmente, a balsa, além de sobrecarregada, como lembra Gilvan, que estava por lá com seus três filhos pequenos, não possuía coletes salva-vidas, como seria de praxe, o que revela mais uma falha imperdoável das autoridades responsáveis.
Tempos depois, as famílias das vítimas conseguiram decisão judicial favorável a indenizações, que, apensar da justeza, jamais conseguiram apagar as marcas da tragédia ainda hoje lamentada, não somente pelas famílias das crianças que acabaram mortas por afogamento, mas, por toda a sociedade pessoense.