Começa o Festival de Inverno da Universidade Federal de Minas Gerais

Entre os dias 23 e 31 deste mês de julho, o Festival de Inverno da UFMG reúne pensadores, escritores e artistas

Uma das marcas históricas do Festival de Inverno da UFMG é a conexão de suas temáticas, debates e das manifestações culturais que abriga com as questões que mobilizam, a cada período, pensadores, escritores e artistas. Neste ano, em que o evento chega à sua 53ª edição – a agenda será aberta no dia 23 e seguirá até 31 de julho –, a programação levanta questões urgentes inspiradas no Modernismo, antecipando a celebração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922.

O Festival, que em 2021 é guiado pelo tema Escutas e vozes dos Brasis, vai tratar do Brasil contemporâneo em conversas, palestras, oficinas, espetáculos de teatro e música, performances, encontros poéticos e exposição virtual. O objetivo é investigar o Modernismo em sua complexidade, refletindo sobre seus paradoxos e contradições. Nesta edição, a Diretoria de Ação Cultural (DAC) divide a curadoria do evento com o projeto MinasMundo, que se dedica a fazer uma revisão dos sentidos do Modernismo em diferentes linguagens artísticas, intelectuais e políticas, tomando como ponto de partida a viagem dos modernistas a Minas Gerais, em 1924.

A associação com o MinasMundo – que foi criado em 2020, sob a coordenação de cinco universidades, entre as quais a UFMG – é exaltada pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida. Ela lembra que, desde sua primeira edição, em 1967, o Festival de Inverno contribui para a reflexão sobre os destinos da arte e da cultura em Minas. “O Brasil é cheio de contradições e impasses, e sua riqueza cultural é talvez o nosso maior trunfo e fonte inesgotável de esperança em um futuro melhor. Debater os rumos do país à luz da Semana de 22, evento tão associado à nossa identidade, é um desafio intelectual que muito nos estimula”, afirma. O debate terá início agora e prosseguirá em fevereiro de 2022, durante a 16ª edição do Festival de Verão da UFMG.

HISTÓRIA DA BARRAGEM DO SANHAUÁ, EM BAYEUX

O evento foi construído para reunir vozes que revelam a emergência de pensamentos e poéticas diversas. “O Festival resgata o Modernismo com foco nas tensões contemporâneas do Brasil e aposta na necessidade de escutar aqueles que defendem a democracia, a justiça social e a necessária transformação do país, baseada em novos valores e pactos, na busca por outras poéticas, políticas, economias e sociabilidades”, afirma o professor Fernando Mencarelli, diretor de Ação Cultural e organizador do evento, ao lado da professora Mônica Ribeiro.

Mencarelli destaca que a coincidência de celebrações de 2022 – o centenário da Semana e o bicentenário da Independência do Brasil – é um incentivo a que se discuta um novo projeto de país. “Há debates urgentes e muita coisa em disputa neste momento em que emergem pautas ditadas pelo neoconservadorismo e pelo autoritarismo. A UFMG quer participar ativamente desse debate”, ele diz.

Preservação da memória dos povos

A parceria da UFMG com o projeto Minas Mundo resultou em diferentes atividades criadas para o Festival. Um curta-metragem que está sendo elaborado pelo projeto e pelo diretor Fábio Aleixo vai abordar o Modernismo como movimento cultural, discutindo, como explica o professor da UFRJ André Botelho, um dos coordenadores do MinasMundo, “as ambiguidades, fracassos e potencialidades atuais do legado de Mario de Andrade”. Também será lançado durante o Festival de Inverno o Atlas Minas Mnemosyne Mundo, interativo e inspirado em criação do historiador da arte alemão Aby Warburg, com imagens da arte e da cultura de Minas Gerais.

Segundo outra coordenadora do projeto, a professora emérita da UFMG Eneida Maria de Souza, a natureza heterogênea das manifestações que sempre estiveram presentes no Festival conjuga-se com os objetivos do MinasMundo. “O evento abre espaço para manifestações de rituais populares e de origem africana e indígena, além de defender a preservação mais do que urgente de uma memória cultural dos povos”, enfatiza Eneida, acrescentando que o projeto pretende ressaltar o lugar de Minas Gerais na gênese dos princípios modernistas. Ela lembra que, em 1924, os intelectuais paulistas vieram a Minas, onde conheceram melhor o Barroco e o transformaram num dos símbolos da identidade nacional.

Ainda de acordo com a professora, o movimento protagonizado historicamente pelos festivais da UFMG e agora também pelo projeto MinasMundo valoriza e resgata culturas historicamente marginalizadas e trabalha pela revitalização de manifestações que extrapolam o eixo Rio-São Paulo: “A ponte que construímos com a UFMG é crucial, assim como é fértil a associação com o Festival de Inverno, que tem mais de 50 anos de tradição e muita relevância em Minas Gerais e no Brasil.” Na abertura do evento, Eneida Maria de Souza vai conversar com o professor e escritor Silviano Santiago, que acaba de lançar O menino sem passado, obra em que revisita suas origens mineiras.

Além da UFMG e da UFRJ, integram a coordenação do MinasMundo, que congrega mais de 50 pesquisadores brasileiros, a Unicamp, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.

Insurgências poéticas e processos decoloniais

As discussões sobre o Modernismo, seus desdobramentos e os projetos nacionais que marcaram o movimento estarão abrigadas em rodas de conversa, palestras, apresentações artísticas sobre memória, cosmopolitismo, cultura oral, literatura e música popular. Intelectuais e artistas convidados vão debater também, entre outros temas, pluralidade e subversão epistêmica, insurgências poéticas, processos criativos decoloniais e cinema indígena.

Integrante da equipe de curadores do Festival, o professor Marcos Alexandre conta que o evento vai receber intelectuais negros e indígenas, que vão partilhar experiências afetivas, coletivas e pessoais, e outros das áreas das artes e da literatura, para dividir com os participantes suas análises sobre pautas relacionadas a identidades, religiosidade, relações sociopolíticas e de gênero.

Após a conversa com Silviano Santiago, na abertura do Festival (sexta, 23, às 19h), o público poderá participar de encontro poético da pesquisadora Lucia Castello Branco, docente na UFMG, com o compositor, cantor e poeta Arnaldo Antunes. A agenda prevê também encontro do professor Mauro Rodrigues com o músico Toninho Horta, oficina conduzida pelo grupo paulista A Barca e por mestres do Congado, a peça Luisa Mahin… eu ainda continuo aqui – sobre o extermínio de jovens negros no Brasil –, roda de conversa sobre a exposição virtual Sertão Mundo, que está sendo produzida pelo Espaço do Conhecimento UFMG, e shows de Titane e Makely Ka, entre muitos outros eventos.

Uma das marcas históricas do Festival de Inverno da UFMG é a conexão de suas temáticas, debates e das manifestações culturais que abriga com as questões que mobilizam, a cada período, pensadores, escritores e artistas. Neste ano, em que o evento chega à sua 53ª edição – a agenda será aberta no dia 23 e seguirá até 31 de julho –, a programação levanta questões urgentes inspiradas no Modernismo, antecipando a celebração do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922.

O Festival, que em 2021 é guiado pelo tema Escutas e vozes dos Brasis, vai tratar do Brasil contemporâneo em conversas, palestras, oficinas, espetáculos de teatro e música, performances, encontros poéticos e exposição virtual. O objetivo é investigar o Modernismo em sua complexidade, refletindo sobre seus paradoxos e contradições. Nesta edição, a Diretoria de Ação Cultural (DAC) divide a curadoria do evento com o projeto MinasMundo, que se dedica a fazer uma revisão dos sentidos do Modernismo em diferentes linguagens artísticas, intelectuais e políticas, tomando como ponto de partida a viagem dos modernistas a Minas Gerais, em 1924.

A associação com o MinasMundo – que foi criado em 2020, sob a coordenação de cinco universidades, entre as quais a UFMG – é exaltada pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida. Ela lembra que, desde sua primeira edição, em 1967, o Festival de Inverno contribui para a reflexão sobre os destinos da arte e da cultura em Minas. “O Brasil é cheio de contradições e impasses, e sua riqueza cultural é talvez o nosso maior trunfo e fonte inesgotável de esperança em um futuro melhor. Debater os rumos do país à luz da Semana de 22, evento tão associado à nossa identidade, é um desafio intelectual que muito nos estimula”, afirma. O debate terá início agora e prosseguirá em fevereiro de 2022, durante a 16ª edição do Festival de Verão da UFMG.

O evento foi construído para reunir vozes que revelam a emergência de pensamentos e poéticas diversas. “O Festival resgata o Modernismo com foco nas tensões contemporâneas do Brasil e aposta na necessidade de escutar aqueles que defendem a democracia, a justiça social e a necessária transformação do país, baseada em novos valores e pactos, na busca por outras poéticas, políticas, economias e sociabilidades”, afirma o professor Fernando Mencarelli, diretor de Ação Cultural e organizador do evento, ao lado da professora Mônica Ribeiro.

Mencarelli destaca que a coincidência de celebrações de 2022 – o centenário da Semana e o bicentenário da Independência do Brasil – é um incentivo a que se discuta um novo projeto de país. “Há debates urgentes e muita coisa em disputa neste momento em que emergem pautas ditadas pelo neoconservadorismo e pelo autoritarismo. A UFMG quer participar ativamente desse debate”, ele diz.

Preservação da memória dos povos

A parceria da UFMG com o projeto Minas Mundo resultou em diferentes atividades criadas para o Festival. Um curta-metragem que está sendo elaborado pelo projeto e pelo diretor Fábio Aleixo vai abordar o Modernismo como movimento cultural, discutindo, como explica o professor da UFRJ André Botelho, um dos coordenadores do MinasMundo, “as ambiguidades, fracassos e potencialidades atuais do legado de Mario de Andrade”. Também será lançado durante o Festival de Inverno o Atlas Minas Mnemosyne Mundo, interativo e inspirado em criação do historiador da arte alemão Aby Warburg, com imagens da arte e da cultura de Minas Gerais.

Segundo outra coordenadora do projeto, a professora emérita da UFMG Eneida Maria de Souza, a natureza heterogênea das manifestações que sempre estiveram presentes no Festival conjuga-se com os objetivos do MinasMundo. “O evento abre espaço para manifestações de rituais populares e de origem africana e indígena, além de defender a preservação mais do que urgente de uma memória cultural dos povos”, enfatiza Eneida, acrescentando que o projeto pretende ressaltar o lugar de Minas Gerais na gênese dos princípios modernistas. Ela lembra que, em 1924, os intelectuais paulistas vieram a Minas, onde conheceram melhor o Barroco e o transformaram num dos símbolos da identidade nacional.

Ainda de acordo com a professora, o movimento protagonizado historicamente pelos festivais da UFMG e agora também pelo projeto MinasMundo valoriza e resgata culturas historicamente marginalizadas e trabalha pela revitalização de manifestações que extrapolam o eixo Rio-São Paulo: “A ponte que construímos com a UFMG é crucial, assim como é fértil a associação com o Festival de Inverno, que tem mais de 50 anos de tradição e muita relevância em Minas Gerais e no Brasil.” Na abertura do evento, Eneida Maria de Souza vai conversar com o professor e escritor Silviano Santiago, que acaba de lançar O menino sem passado, obra em que revisita suas origens mineiras.

Além da UFMG e da UFRJ, integram a coordenação do MinasMundo, que congrega mais de 50 pesquisadores brasileiros, a Unicamp, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Universidade de Princeton, nos Estados Unidos.

Insurgências poéticas e processos decoloniais

As discussões sobre o Modernismo, seus desdobramentos e os projetos nacionais que marcaram o movimento estarão abrigadas em rodas de conversa, palestras, apresentações artísticas sobre memória, cosmopolitismo, cultura oral, literatura e música popular. Intelectuais e artistas convidados vão debater também, entre outros temas, pluralidade e subversão epistêmica, insurgências poéticas, processos criativos decoloniais e cinema indígena.

Integrante da equipe de curadores do Festival, o professor Marcos Alexandre conta que o evento vai receber intelectuais negros e indígenas, que vão partilhar experiências afetivas, coletivas e pessoais, e outros das áreas das artes e da literatura, para dividir com os participantes suas análises sobre pautas relacionadas a identidades, religiosidade, relações sociopolíticas e de gênero.

Após a conversa com Silviano Santiago, na abertura do Festival (sexta, 23, às 19h), o público poderá participar de encontro poético da pesquisadora Lucia Castello Branco, docente na UFMG, com o compositor, cantor e poeta Arnaldo Antunes. A agenda prevê também encontro do professor Mauro Rodrigues com o músico Toninho Horta, oficina conduzida pelo grupo paulista A Barca e por mestres do Congado, a peça Luisa Mahin… eu ainda continuo aqui – sobre o extermínio de jovens negros no Brasil –, roda de conversa sobre a exposição virtual Sertão Mundo, que está sendo produzida pelo Espaço do Conhecimento UFMG, e shows de Titane e Makely Ka, entre muitos outros eventos.

O Festival de Inverno será transmitido pelo canal da DAC no YouTube, e as  informações sobre o evento serão atualizadas no Facebook, no Twitter e no Instagram. Toda a programação é gratuita.

O contemporâneo, o regional e o popular

Criado em 1967 e realizado anualmente pela Diretoria de Ação Cultural da UFMG, o Festival de Inverno promove interlocução da Universidade com a sociedade, aliando arte e cultura contemporânea de ponta a manifestações populares e regionais. Depois de passar por Ouro Preto, Diamantina, São João del-Rey e Poços de Caldas, o evento está estabelecido em Belo Horizonte desde 2014.

Ao longo de mais de cinco décadas, o Festival favoreceu o surgimento de grupos como Galpão, Corpo, Uakti e Oficcina Multimédia. A presença em Belo Horizonte inspirou a criação de outros festivais, como o Internacional de Dança (FID) e o Internacional de Teatro (FIT).

Da redação do Para Onde Ir, com informações da UFMG

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