Diante do caos, diante do esgotamento das UTIs públicas, o ministro Nelson Teich já fala em lockdown. Dessa forma, para enfrentar o mal maior, para os escudeiros da medicina privada, que é o sequestro dos leitos de UTIs dos hospitais pagos.
Mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. Afinal, não houve quarentena mais desrespeitada do que a do Brasil. Além dos brasileiros, que acompanham, como vítimas, o desastre provocado pela ‘gripezinha’, o mundo inteiro assiste estarrecido.
E não vai ser apenas o sequestro dos leitos privados de UTIs o próximo passo no combate à Covid-19, no país, diante do caos. Vem aí a fila única. Isso quer dizer que ricos e pobres, amparados por planos de saúde ou não, terão de obedecer a uma fila única de atendimento, nas redes públicas e privadas. Isto é: tudo junto e misturado.
Isso significa que todo o sistema de saúde estará comprometido para combater o coronavírus. Com o esgotamento, estaremos condenados a não precisar de atendimento de urgência para qualquer mal. É o caos da saúde.
Advertências
Esse caos da saúde vem sendo advertido pelos cientistas, desde o início da epidemia. Foi por isso que governadores e prefeitos estabeleceram a quarentena. Dessa forma, com chancela do então ministro da Saúde, Henrique Mandetta.
Mas, o que houve? O presidente Jair Bolsonaro fez questão de desmoralizar o isolamento, e foi às ruas. Aglomerou gente e pediu o fim da quarentena. Aí, juntou a fome com a vontade de comer, e o povo, agoniado com o isolamento, foi às ruas, também.
O que está acontecendo, agora, é resultado de tudo isso. O esgotamento do sistema de saúde, às vésperas de ocorrer, vinha sendo previsto pela ciência, corretamente. Sem outra saída, neste momento, os cientistas falam em necessidade urgente de lockdown. E o ministro Teich a eles se associa. Sem saída.
Tivesse o Brasil obedecido aos alertas da Medicina, nacional e internacional, desde logo, e provavelmente estivéssemos mais perto de organizar uma saída da quarentena. Pobre da economia que vai pagar mais caro pela irresponsabilidade.
Economia e vida
Portanto, não há situação mais patente a provar o quanto estavam, e continuam errados os que opuseram economia à vida. De fato, o esgotamento do sistema de saúde, para todos, vai fazer com que o isolamento volte, agora, com força total. É o lockdown.
De perto ou de longe, o mundo acompanha horrorizado o que acontece no Brasil. Aqui, na vizinhança, os países latinoamericanos enxergam a situação brasileira como de grande perigo para eles. A tendência é de eles se isolarem de nós. Também, aqui, pior para a nossa economia.
(Sergio Botelho)