São Paulo e suas memórias: Beijo Eterno, a estátua salva da censura

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Sérgio Botêlho – Agora, em frente à Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a estátua Beijo Eterno foi salva por estudantes depois de perambular por ruas, praças e depósitos paulistanos, sob furibunda censura

Beijo Eterno
Beijo Eterno – No Largo de São Francisco – São Paulo

A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo é cheia de homenagens em forma de monumentos, cada um com seu próprio enredo, reproduzindo figuras políticas ou intelectuais que são caras à história da democracia e da cultura do Brasil. Existe um desses monumentos em que a homenagem se revela por meio de inspirações com formato humano.

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No caso, há uma estátua que reproduz uma cena de amor entre um homem e uma mulher, ambos nus e abraçados, e ligados num beijo eterno que somente uma obra em bronze pode proporcionar. Informações dão conta de que o peso da estátua atinge os 400 kg.

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O artista responsável pela estátua foi um sueco, William Zadig, que vivia no Brasil e era casado com uma brasileira, da família Capote Valente, sendo resultado de uma encomenda feita pelos estudantes de Direito da USP. O objetivo era homenagear o poeta Olavo Bilac, ídolo dos estudantes. 

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Pronta, a estátua foi instalada na Avenida Paulista em 7 de setembro de 1922, centenário da Independência do Brasil, justamente cumprindo o desejo estudantil de homenagear o poeta num dia tão importante para a pátria, pelo que Bilac representava no campo do nacionalismo, no país.

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Tudo ia muito bem, de início. Mas, não demorou muito a começaram as reações puritanas ao casal nu e colados por aquele beijo sem fim, tão belo e tão poético. A partir daí, a estátua viveu um período de remoções e novas instalações e de simples depósito nos porões da prefeitura, até que os estudantes fossem buscá-la e a colocassem em frente ao prédio da faculdade.

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O esforço e a proteção estudantil até agora vai dando certo, e a estátua é um espetáculo de arte e humanismo no Largo de São Francisco, a enternecer os corações mais livres de preconceitos e de muito amor no coração. Embora não se saiba exatamente até quando, já que surtos de hipocrisia e moralismo barato são bem comuns no Brasil.

(As fotos são de Sérgio Botêlho, repórter e editor deste site Para Onde Ir.)

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