3 “pecados” de Padre Antônio Vieira, o jesuíta punido pela Inquisição

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Padre Antônio Vieira, em 23 de dezembro de 1667,  seria condenado pela Santa Inquisição ao silêncio e à reclusão. Desse modo, era punido explicitamente por reconhecer autoridade no sapateiro–profeta Bandarra. Contudo, apenas a gota d’água, como veremos mais adiante.

Tendo vivido na Vila de Trancoso entre os anos de 1500 e 1556, Bandarra escrevera Trovas Messiânicas. A saber, escritos que profetizavam o futuro de Portugal como um reino universal. De tal forma que acabou servindo ao sebastianismo. (Mais para o futuro, terminou alinhando até o grande poeta Fernando Pessoa. Porém, essa é uma outra história.)

Sebastianismo

O sebastianismo tem origem em uma tragédia portuguesa, devida à morte do rei D. Sebastião na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Dessa maneira, como não tinha herdeiros, o rei D. Filipe II, da Espanha, assumiu o reino português.

Assim, instalou-se em Portugal um movimento de tipo messiânico que previa a volta de D. Sebastião. Portanto, as Trovas Messiânicas de Bandarra serviram como profecia dos sebastianistas sobre a possível ressurreição do rei falecido.

Esperanças de Portugal

O reconhecimento a Bandarra aparece em carta enviada por Padre Vieira ao bispo titular do Japão e confessor da rainha, viúva de Dom João IV. Nesse sentido, “Esperanças de Portugal, Quinto Império do Mundo” garante a atualidade do sapateiro–profeta.

“…o Bandarra é verdadeiro profeta; a verdadeira prova de espírito profético é o sucesso das coisas profetizadas”. Então, nas barras da Santa Inquisição, a carta virou-se contra o Padre Antônio Vieira, daí a condenação.

Dialética de Vieira

Importa esclarecer que um ano depois o condenado conseguiu que o Vaticano anulasse a sentença. Mas também que a própria Inquisição fosse suspensa em Portugual, por 7 anos. A extraordinária dialética do Padre Vieira acabou convencendo o Vaticano.

Aliás, como também dobrou a própria Inquisição. Afinal, o desejo dos inquisidores era condena-lo à morte. Inegavelmente, sua capacidade de defesa, brilhantemente exposta nas dezenas de sermões ainda hoje admirados, terminou por amenizar sua condenação.

Sermões

São famosos os Sermões do Padre Antônio Vieira. De fato, mais de duzentos, que compõem uma obra vastíssima. Aqui e acolá, vestibulares pelo Brasil afora demandam a leitura desses sermões. Vale dizer, que no meio literário os Sermões do Padre Vieira se constituem em leitura obrigatória.

Com brilhante domínio da língua portuguesa, da filosofia e da Bíblia, o padre mistura o português de Portugal com o que vinha sendo construído na colônia. Vale dizer que ele viveu no Brasil a partir dos 7 anos, mais precisamente em Salvador.

Pecados

Porém, não foi apenas o que ficou consubstanciado na carta ao bispo do Japão que motivou a ira da Inquisição sobre Vieira. No texto, ao reerguer o nome de Bandarra, o padre denotava, aos olhos dos inquisidores, a defesa dos novos-cristãos, os judeus.

Efetivamente, ele era um defensor dos judeus, pelos quais se batia quando o assunto era persegui-los. Este, seu primeiro “pecado”. Nas, não o único. O padre também era defensor ferrenho dos índios, no Brasil, contrário, sobretudo, à escravidão dos gentios. O segundo “pecado”.

Enfim, era adversário declarado da Inquisição, o que deixava furiosos os defensores daquela barbaridade. Por conseguinte, seu terceiro “pecado”.

Padre Antônio Vieira morreu aos 89 anos, em Salvador, deixando indelével marca na literatura, no pensamento e na política portuguesa e da colônia. O que o faz sobreviver, junto com sua brilhante prosa barroca, até os dias de hoje.

Fontes

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Vieira

https://canalcienciascriminais.com.br/padre-antonio-vieira-santa-inquisicao/

https://mafua.ufsc.br/2012/o-silencio-de-vieira/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Gon%C3%A7alo_Annes_Bandarra

https://www.infoescola.com/historia/sebastianismo/

Memórias

Assim, o Padre Antônio Vieira passa a fazer parte das Memórias do Para Onde Ir.

(Sérgio Botêlho)

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