O sucesso de Anitta

Sérgio Botêlho – Confesso, meio encabulado, que meu gosto musical não alcança as paradas mais contemporâneas. Meus ouvidos ficaram meio presos à música de raiz em geral e à Música Popular Brasileira mais bem elaborada em termos musicais e poéticos.

(Me encho de vaidade, contudo, para dizer que não gosto de certa cantilena pasteurizada, que se utiliza do estilo das músicas raízes para criar letras de mal gosto e sons repetidos que abusam de nossos ouvidos e da nossa paciência.)

Há músicas de hoje em dia, portanto, que não me sensibilizam, ainda, por fugirem desses padrões estéticos citados, embora não consiga rotulá-las precisamente como de mal gosto, como são aquelas que corrompem as músicas de raiz, no Brasil.

Desse jeito, outra vez encabulado, confesso nunca ter prestado muita atenção às produções musicais de Anitta, hoje, uma cantora e compositora brasileira gloriosamente premiada mundialmente, sendo a primeira latino-americana a ocupar o 1º lugar no ranking global da Spotify.

Seu feito mais recente, e efetivamente admirável, foi o de passar a compor, pela força do sucesso que desfruta, do museu de cera Madame Tussauds, o de Nova York, onde estão outros brasileiros como Neymar, Pelé, Ayrton Senna, Gisele Bündchen, Adriana Lima e Alessandra Ambrósio.

Mas, também, figuras como Elvis Presley, Whitney Houston e Michel Jackson – para citar alguns -, figuras, estas últimas, que estão no mesmo ambiente onde a estátua da brasileira foi colocada. O que empresta a Anitta mais notoriedade, ainda.

Relevante saber que o conjunto de museus Madame Tussauds, que existe em algunas grandes cidades do mundo, recebe cerca de 500 milhões de visitas, anualmente, a evidenciar bem claramente o prestígio de que a instituição desfruta no plano internacional do memorialismo. O museu de Nova York é um dos mais visitados.

(Madame Tussauds homenageia uma artista francesa que costumava fazer máscaras mortuárias de nobres mortos na guilhotina, máscaras essas que desfilavam pelas ruas de Paris durante a Revolução Francesa).

O feito de Anitta, fico sabendo, é ainda maior em virtude de ser caprichosamente resultado de um esforço marcadamente próprio, oriundo de seus conhecimentos no campo do marketing e de sua vocação artística e criatividade, a caracterizarem ações e obras de sua lavra, além de leituras e releituras de obras de outros artistas.

Em outras épocas, a proeza de Anitta seria celebrada, pelo país, como virtude brasileira e devidamente explorado, no bom sentido, como propício acontecimento à divulgação da cultura nacional, e mesmo do país enquanto Nação, perante o mundo.

No entanto, neste momento, uns poucos artistas do cenário nacional, sem o mesmo sucesso internacional de Anitta, resolveram ataca-la pelo fato de ela ter decidido tatuar partes íntimas de seu corpo. Pelo que consta, ficou ruim para os detratores, flagrados no contrapé por motivos justificadamente condenáveis.

Tudo isso tem a ver com a extrema e perniciosa ideologização do Estado brasileiro, em vigor nos últimos anos, a partir de pregações originadas no centro do poder federal, que buscam transformar adversários em inimigos e terminam por prejudicar a arte, a cultura e as relações sociais e humanas brasileiras.

O sucesso de Anitta, no mundo, não foi construído a partir de suas tatuagens, elementos de adorno ao gosto da artista e com os quais ninguém tem nada, absolutamente nada a ver. A relevância desses adornos diz respeito tão somente ao bem-estar dela, e têm de ser respeitados.

O sucesso de Anitta foi erguido, é conveniente repetir, em cima de sua determinação pessoal e consolidado por sua capacidade artística, grandiosa ao ponto de cativar gentes que vivem e moram além das fronteiras nacionais, tendo, agora, ainda em vida, tal grandiosidade perpetuada em museu.

O Brasil precisa render mais homenagens a Anitta, assim como a todos os que lutam para fazer com que o que se produz no país seja admirado e respeitado lá fora.

Salve #Anitta! Salve a arte e a cultura do Brasil!

Crédito da imagem: Divulgação Museu Madame Tussauds

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