Sérgio Botêlho
Não tinha quem não parasse para olhar aquelas imagens bizarras expostas do lado de fora do laboratório de fotografia de Ariel e Arion (com nome de fantasia de Foto Condor). Tanto podia ser um inhame disforme e gigante quanto um porco que nasceu com cara de gente.
Hoje, nos tempos do Adobe Photoshop, montagens assim são cafés pequenos para os versados no programa. Quero ver naquele tempo de técnicas ainda primárias de revelação de filmes, com muita química e salas escuras!
Aliás, tem muita gente que, ainda hoje, prefere as fotografias em preto e branco, a especialidade dos dois, pai e filho. Com efeito, em termos artísticos, não há comparação entre uma foto em preto e branco e outra colorida, quando se trata de jogo de sombras.
Realmente, não tem parelha, em termos de beleza, apreciar os detalhes de um anoitecer urbano, e chuvoso, com um rio e uma mata ao fundo, isto, em preto e branco. Tudo tem que ser trabalhado com muita arte, durante a revelação e a utilização dos químicos, para um resultado de qualidade.
Pois bem. Nos tempos de Ariel e Arion, havia outros laboratórios de fotografias em João Pessoa, ainda hoje vivos na memória dos remanescentes daqueles tempos. Por exemplo: o Foto Lira, vizinho ao Rex. Outro: o Foto Stuckert, entre a Igreja da Misericórdia e o Ponto de Cem Réis.
Os descendentes de Lira não seguiram a profissão do pai. Mas, os descendentes de Stuckert, sim. Há dois jovens irmãos, ambos Stuckert, descendentes do paraibano, que trabalham em Brasília com reportagem fotográfica, ramo jornalístico da fotografia.
Tinha ainda o Foto Nuca e o Foto Estrela, localizados na Treze de Maio, segundo me lembra o sempre atento Lelo Cavalcanti. Havia outros, mas, esses eram os mais festejados. Porém, apenas Ariel e Arion, se a memória não me falha (e peço auxílio de conterrâneos da época) expunham essas fotos, assim, em frente ao prédio onde funcionava o estúdio fotográfico de pai e filho, ali na Miguel Couto, bem pertinho da Visconde de Pelotas, prédio em que, hoje em dia, funciona barbearia bem frequentada.
Ainda hoje fico sem saber direito se a intenção era chocar os transeuntes ou apenas demonstrar vocação mais apurada pela foto-notícia. Ou apenas chamar a atenção para o estúdio dos dois. Seja lá qual fosse a intenção, Ariel e Arion acabaram marcando época na fotografia de João Pessoa.
Fico a imaginar o quanto eles gastavam em dinheiro ou em sola de sapato para correr atrás dessas imagens, muitas vezes, gravadas longe de João Pessoa. Muitas dessas fotos, inclusive, foram parar nas páginas dos jornais diários que circulavam na Capital paraibana.
Não me consta que eles tenham amontoado riqueza com a arte, mas, ambos, fazem parte da história do cotidiano pessoense, para sempre.
(Do livro “Não mora mais ninguém na minha rua”, que segue no prelo)