“Foi luta de titães, luta tremenda!”

Sérgio Botêlho – 2 de julho de 1823. A importância da data de 2 de julho é pouco referida no país como um todo. Na Bahia, contudo, é dia de grande contentamento popular. É dia de celebrar a Independência do Brasil.

A história é a seguinte: A forte simbologia expressa pelo grito de “Independência ou Morte” proferido por Pedro I, em 7 de setembro de 1822, não ecoou de forma convincente e uniforme na vastidão do Brasil real.

Na Bahia, por exemplo, os portugueses resolveram ficar, e ponto final. E quando a gente diz que os portugueses resolveram ficar, entenda-se que a permanência aconteceu na base da força empreendida pelas suas tropas, ali localizadas.

Tirar os lusitanos do território baiano não foi fácil, e compreendeu milhares de mortes e atos de heroísmo sem tamanho, com o envolvimento direto do povo baiano numa luta, a princípio, muito desigual em termos de poder de fogo.

Proclamada a independência do Brasil pelo imperador, diferentemente do que aconteceu em outras partes do país, o tenente-coronel Madeira de Melo, que comandava as tropas portuguesas na Bahia, se apossou do poder, e desandou a praticar as maiores perversidades. Após conseguir reforço de Portugal, matou o que pode matar de gente na cidade de Salvador, e impôs o comando pelo terror.

Antes disso, a tensão já era enorme entre portugueses e baianos. Tanto assim que em 19 de fevereiro de 1822, antes mesmo do grito do Ipiranga, as tropas portuguesas assassinaram covardemente a abadessa Joana Angélica por ela ter oferecido resistência pessoal à invasão do Convento da Lapa, pelas tropas portuguesas.

Mas, não foi somente Joana Angélica, mártir da luta pela independência do Brasil, a única mulher restou destacada na peleja de morte contra os lusitanos. Outras duas valentes mulheres são relevantes nessa guerra.

Uma delas, Maria Quitéria, lutou, até ser descoberta, vestida de homem, já que não eram permitidas mulheres na linha de frente das tropas brasileiras. Depois de descoberta, lhe foi dada permissão para continuar na luta, onde, afinal, esteve entre os vencedores.

A outra, uma negra baiana, natural da Ilha de Itaparica, de nome Maria Felipa, responsável pela queima de grande número de embarcações portuguesas, à frente de dezenas de bravas mulheres, também de Itaparica.

Para a derrota final dos portugueses, os baianos contaram com tropas despachadas por Dom Pedro, que permaneceram estacionadas na região do Recôncavo Baiano, em terra, cercando Salvador, e, até, com altos oficiais da Inglaterra e da França, a partir do mar.

Porém, foi o povo baiano, no essencial da luta, quem contribuiu de forma decisiva para que, afinal, em 2 de julho de 1823 os portugueses fossem definitivamente expulsos do Brasil, consolidado a independência do país.

Por isso, a data de hoje é muito comemorada na Bahia, com o povo indo às ruas em desfile de caráter eminentemente popular, tendo, dessa forma, se tornado uma festa de enorme conteúdo cívico e efetivamente enraizada nas tradições do povo baiano.

Fatos como este, e semelháveis, transformam a Bahia em um capítulo muito especial da história do Brasil. Bem como, a intensa e extensa mistura de raças e de culturas, originárias e introduzidas, acabam distinguindo aquele estado como um dos territórios social e culturalmente mais brasílicos, na parte de baixo da Linha do Equador em sua passagem pelas Américas.

“Trago no peito a estrela do Norte”

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