Sérgio Botêlho – Embora tão antiga como antiga é a humanidade, a esperteza da mentira, hoje chamada de fake news, aumenta seu poder com as redes sociais e ganha inimigos expertos
Pois bem. Não vem de hoje essa história da utilização de fake news em campanhas eleitorais. De há muito que bunkers de propaganda política, no período das eleições ou fora dele, têm manipulado informações sobre adversários.
Aliás, não apenas no campo da política vem a divulgação de mentiras fazendo escola na humanidade. Mas, também, no da simples emulação pessoal ou corporativa, isso em guerras e disputas em geral entre gentes e nações.
Detratar pessoas, não raramente, é uma prática bem comum que se desenvolve em mesas de bar e em confessionários, a ela se dedicando uma malta que não pode mesmo viver sem o fuxico, às vezes por puro deleite.
O que agora preocupa é que o mexerico, independente do propósito a agitar o mexeriqueiro, foi catapultado, pelas redes sociais internáuticas, a uma velocidade alucinante em valores de tempo e de espaço.
Nesse formato, então, a dinâmica da mentira passou a fazer parte de campanhas eleitorais de maneira cada vez mais eficiente, com o mister exercido por equipes crescentemente profissionais e qualificadas.
Portanto, aquilo que era movimentado por intrigantes acostumados à divulgação de calúnias, por intermédio do cochicho individual ou em rodas de pessoas devidamente escolhidas, incrementadas a partir de fatos reais ou sequer existentes, ganhou base científica.
(Dia desses, uma saudosa figura da política paraibana me contou um episódio envolvendo certo político alagoano dos tempos do coronelismo brabo, ele, o tal alagoano, inimigo ferrenho de um outro coronel, os dois ‘machos’ e valentões imprevisíveis.
Em ocasião altamente formal, teve o coronel das Alagoas que inteirar um cônsul francês, altamente refinado, sobre novidades a respeito do outro.
“Como vai o coronel fulano de tal, coronel?”, indagou, curioso, o representante da França. A resposta: “Aquilo tá dando um c…!”. Era assim que ele atualizava a vida do adversário a um representante estrangeiro. Imagine no estado!)
Mas, como ia dizendo, esse tipo de prática foi, em nossas circunstâncias, elevado a um nível catastrófico pelas trilhas das redes sociais, sendo considerado, já, responsável pelo sucesso eleitoral de figuras deletérias, em algumas partes do mundo.
E, nesse diapasão, o espalhamento de mentiras vai migrando do anedotário político para se transformar em caso de justiça e, consequentemente, de polícia, com as instituições se apetrechando para o seu (da fake news) combate.
Leio, nas edições matinais desta quarta-feira, 10, da imprensa do Sudeste do país, por exemplo, que a Polícia Federal já tem um grupo altamente especializado na área, encarregado de lidar com esse tipo desse crime.
Na mesma direção caminha a Justiça Eleitoral, pela palavra do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que vai comandar a eleição de outubro próximo na condição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O que se espera, evidentemente, é uma colaboração mais efetiva das direções empresariais que dominam as redes sociais, no sentido de serem ágeis o suficiente para atender, o mais prontamente possível, às ordens da justiça e da polícia.
Porém, não somente isso. É necessário, na mesma linha, que os responsáveis pelas referidas redes sejam capazes de, eles próprios, estabelecerem mecanismos capazes de assinalar a divulgação de mentiras, impedindo-as.
Afinal de contas, a democracia é o bem institucional mais qualificado para atender as relações sociais entre as inerentes forças adversárias do debate político, sendo a mentira, ainda mais quando propagada sob a velocidade da internet, um dos mais perigosos e perversos inimigos da liberdade política e de pensamento na vida contemporânea.