Sérgio Botêlho
Uma das características mais emblemáticas do pleito presidencial de 2018 é a pulverização das candidaturas, levando-se em consideração as que se anunciam, agora, na pré-campanha. Tem candidato para todos os gostos no espectro ideológico da política nacional.
Visitemos o quadro das pré-candidaturas a partir dos maiores para os menores partidos.
A situação do ex-presidente Lula, que, preso, deixa o PT (primeiro a ser visitado, por ser o maior) num imenso suspense com respeito ao seu candidato. Contudo, seja quem for o candidato petista, na pior das hipóteses, o partido, enquanto legenda, se situa num patamar entre 20% a 25% da preferência do eleitorado, condição que beneficiará o candidato.
Caso fosse Lula, aí, o patamar iria acima dos 30%, como revelam todas as pesquisas de opinião pública, até agora. No entanto, é o partido com o maior quinhão de recursos dos fundos eleitoral e partidário, e com o maior tempo de TV. Vai à luta com Lula, no mínimo, transformado em El Cid, e isso tem peso. Corre, entretanto, para tentar unir a esquerda e aumentar o tempo televisivo, o que não está fácil.
Depois, vem o MDB, por enquanto, em situação muito ruim em termos de candidato. O presidente Temer e o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles disputam a vaga, mas, até agora, nenhum dos dois pontua bem nas pesquisas. Eles ainda seguem na casa de 1 dígito de percentual, cada um, com alguma margem para crescer, embora não se saiba, quanto.
Os peemedebistas têm, a seu favor, o governo federal, a segunda maior reserva dos fundos eleitoral e partidário, e o segundo maior tempo de TV, com perspectivas de ampliar esse tempo, na medida das coligações que vierem a fazer, já que podem atrair o PR, o PTB e o PP para o seu palanque eletrônico e físico.
O PSDB também está situado, com a candidatura Alckmin, na casa de 1 dígito. O partido parece ter sido um dos mais prejudicados (ao lado do PT, é claro, que perdeu o poder) com o processo de impeachment da ex-presidente Dilma e com a Lava Jato, e ainda patina na busca de votos.
Porém, assim como o MDB, os tucanos têm espaço para subir. Estão armados com o terceiro maior tempo de TV e de volume de recursos dos fundos partidário e eleitoral. Por enquanto, há dificuldades, mas, o PSDB precisa unir mais legendas em apoio à candidatura Alckmin.
O DEM, com a candidatura Rodrigo Maia, é outro que não pontua bem nas pesquisas que foram feitas até agora, e, na mesma linha de MDB e PSDB, o Democratas permanece na casa de 1 dígito percentual. Se pode crescer, só o tempo dirá, mas, é apenas o 10º maior tempo de TV, entre os partidos, e, por enquanto, enfrenta dificuldades na atração de parceiros.
A partir daqui, mudemos dos partidos para algumas figuras. A primeira delas, é a do deputado federal Jair Bolsonaro, candidato do PSL, que embora não chegue aos 20%, se mantém perto disso nas pesquisas de opinião pública. Com Lula no rol dos pesquisados, Bolsonaro gira em torno dos 16%; sem Lula, ele sobe, mas, não atinge os 20%, até agora.
Numa eleição tão pulverizada, entretanto, conforme já chamamos a atenção, permanecer na margem em que o candidato do PSL se encontra , ou mais um pouco, pode significar segundo turno. O desafio de Bolsonaro é superar a limitação do tempo na TV, por conta do tamanho do seu partido, o PSL, e de poucos recursos dos fundos partidário e eleitoral, em comparação com as maiores legendas. Há dificuldades de o PSL construir alianças.
Na sequência, chamamos Marina Silva, da Rede, que aspira conquistar votos de Lula caso o ex-presidente acabe mesmo fora do páreo, como muito provavelmente vai acontecer (não é possível arriscar com certeza absoluta uma vez que há especialistas dizendo que, mesmo preso, há chance de ele concorrer, no que pese ser uma chance muito remota). A ecologista tem menos tempo de TV do que tinha Enéias (mesma situação de Bolsonaro). Marina vai sofrer, ainda, a concorrência de candidatos à esquerda.
Falo de Boulos, do PSOL, Manoela d’Ávila, do PCdoB, Ciro Gomes, do PDT, e seja lá quem vier pelo PSB, pré-postulantes que, se não fecharem com o candidato do PT, estarão, assim como Marina, correndo o trecho em busca dos votos de Lula, que, esteja onde estiver, preso, solto, vivo ou morto, candidato ou não, terá peso vital no pleito. Para o bem ou para o mal, dependendo do ângulo da visão de cada um.
Mais candidatos
O senador Álvaro Dias, do Podemos, e o empresário Flávio Rocha, do PRB, que correm na raia da direita, disputarão palmo a palmo votos com Bolsonaro e Alckmin. Os dois, Álvaro e Rocha, têm, contra eles, assim como o concorrente Bolsonaro, o reduzido tamanho de seus partidos e, por conseguinte, de tempo na televisão, quesito vital na comunicação da campanha, especialmente para candidatos não muito reconhecidos. Correm atrás de alianças.
Por tudo isso, é notória a semelhança – falo da pulverização de candidaturas -, entre o pleito de 2018 e o de 1989, na vitória de Collor sobre Lula, no segundo turno, quando, no primeiro turno, havia 22 candidatos.
Talvez pouca gente se lembre, mas, Collor, o mais votado do primeiro turno, ficou tão somente na casa dos 30% dos votos e, com isso, passou ao segundo. Agora, sabem qual o percentual que levou Lula ao segundo turno, em 1989? Pois bem, vou lembrar: 17% dos votos.
É isso. Em eleições muito divididas conseguir se situar ao redor dos 20% dos votos, e, até menos do que isso, pode levar o pretendente direto ao segundo turno. E é o que pode acontecer nesse ano tão tumultuado da vida política brasileira, onde uma outra variável tende a aumentar o seu peso, isto é o braço da Lava Jato e de outras investigações, que ainda vai descer pesado, até o final do ano. A prisão de Lula é apenas o introito.