Sérgio Botêlho – Entre a incipiente utilização do Porto do Capim e a inauguração do Porto de Cabedelo, a Paraíba padeceu economicamente por 350 anos
Nos três primeiros séculos desde o seu nascimento, em 1585, a atual cidade de João Pessoa e, por consequência, a Paraíba, sofreu muito para se desenvolver economicamente por conta da pachorra das autoridades provinciais em tomar decisões, aliada à falta de prestígio junto às autoridades monárquicas, em grande parte, por conta de evidente indisposição reivindicatória.
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Um dos maiores entraves ao progresso econômico paraibano se localizava à margem direita do rio Sanhauá – ou Paraíba, conforme preferirem – exatamente onde nasceu a Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, em 1585: o Porto do Capim ou do Varadouro. O problema era enorme, devido ao assoreamento do canal que permitia o tráfego de navios desde a foz do nosso mais homenageado curso d’água, em Cabedelo.
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Segundo descrições da época, navios costumavam levar de 8 a 10 dias para fazer o tal percurso, o que encarecia enormemente o embarque de mercadores, com prejuízos enormes aos produtores de algodão e cana de açúcar. Desse jeito, Pernambuco dominava economicamente a Paraíba em larga escala, exatamente pela extravagante dependência dos paraibanos com relação ao porto do Recife.
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Nesses tempos, mais precisamente, em maio de 1864, a presença física na Paraíba do primeiro engenheiro e empresário André Rebouças (primeiro engenheiro negro da história do Brasil, hoje nome de importantes artérias públicas nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, e de cidade, bairros e ruas no Estado do Paraná) que, montado em seu prestígio junto às autoridades do Império, defendeu veementemente a construção do Porto de Cabedelo.
Mas, segundo descreveu ele próprio, não provocou grande interesse entre as autoridades paraibanas, justificada pela descrença em angariar apoio suficiente no Rio para as obras do novo e necessário porto. E, assim, a economia paraibana – que poderia ser melhor escorada no incremento da produção de itens de exportação com o novo porto – seguia estagnada, ancorada no improfícuo Porto do Varadouro.
Registre-se que, principalmente após a extensão da linha ferroviária Conde D’Eu, até Cabedelo, inaugurada oficialmente em 1889, onde esboço do futuro porto já servia, de maneira insuficiente, ao embarque de mercadorias, o estuário de Cabedelo passou a ser mais utilizado, ao embarque de navios, o que serviu para que, muito, mas muito aos poucos, fosse abandonada a caríssima e inviável ideia de dragagem do canal que conduzia os navios da foz do Paraíba até o Porto do Capim.
Na década de 20, apesar de tudo, ainda foi feita uma tentativa de viabilizar o Porto do Varadouro, segundo iniciativa da presidência do paraibano Epitácio Pessoa. Contudo, a empreitada resultou em grande malogro, como não poderia deixar de ser, frente às inúmeras advertências técnicas anteriormente registradas, insucesso que incluiu avultada corrupção, por parte das autoridades locais, tendo deixado Epitácio bastante frustrado e indisposto, até a morte, com seu estado natal.
Então, em 1935, ao cabo de 350 anos de fundação da Paraíba, finalmente foi inaugurado o Porto de Cabedelo, que passou a servir oficialmente de principal porto do estado, com posição geográfica imensamente favorável à exportação para a Europa. O que não impediu a continuidade, por décadas, de sua subutilização frente ao Porto do Recife.
Mas, enfim, estava morto e sepultado o Porto do Varadouro, popularmente batizado de Porto do Capim.
FONTES:
“Sobre Portos Nordestinos”, por Yuri Simonini. Editora Pimenta Cultural
“Território e cidade nos trilhos da Estrada de Ferro Conde D’Eu – Província da Parahyba do Norte (1871-1901)”, por Maria Simone Morais Soares. Tese de doutoramento em Arquitetura e Urbanismo, na Universidade Federal da Bahia.
“Porto Político”, por José Joffily. Editora Civilização Brasileira.