Pesquisa DataFolha: um retrato do que, no momento, pensa o povo

Ao ler a pesquisa DataFolha convém pensar no que existe, agora, com relação ao pensamento popular, e levar os números a sério

Sérgio Botêlho – Toda pesquisa de opinião pública é um retrato do momento. Esse é um elemento de análise que antecede todos os outros, na leitura de qualquer material desse tipo. Quando o pesquisado responde às perguntas feitas pelo pesquisador, inclusive as que têm sentido de futuro, ele está com a cabeça fincada no presente, no agora, no arcabouço da realidade que lhe cerca mais imediatamente.

Erradamente, inclusive, há quem imagine que, numa pesquisa político-eleitoral, números referentes a rejeição de X ou Y pesquisado tem significado quase de perpetuidade. Pois não tem. Assim como os outros quesitos do levantamento, os que se referem à rejeição podem mudar com o tempo. Já vi muito isso acontecer.

Nesta quarta-feira, 12, o prestigiado instituto DataFolha revelou o que anda pensando o eleitor, no presente instante, sobre a disputa presidencial que vai acontecer no próximo ano. Na verdade, serve – mais do que saber exatamente o que vai acontecer daqui a mais de um ano – ler a pesquisa para entender o que está acontecendo com cada um dos prováveis candidatos, agora.

Um deles é o atual presidente Jair Bolsonaro, ainda sem partido. Os 23% que ostenta no DataFolha de ontem significam que sua popularidade caiu abaixo, um bocado, dos 30% que sempre teve na maioria dos cenários, até agora. Por motivos não explicados apenas pelos números, o que implica na necessidade de uma boa pesquisa qualitativa, a opinião pública não anda muito, por ora, ao seu lado.

Por outro lado, o ex-presidente Lula, do alto dos 41% de sua popularidade de momento, está bem com a opinião pública, significando que superou o desgaste que teve com a prisão de mais de um ano, e com as acusações que lhe foram imputadas. Portanto, com 41%, e se as eleições fossem hoje, ele tinha até chance de vencer a parada no primeiro turno, com um pouco mais de crescimento.

Com seus 41% de aprovação popular, e diante de outros candidatos com apelo de esquerda ou de oposição ao atual governo, o que esses números realmente expressam é que a opinião pública brasileira, neste preciso instante, enxerga Lula como o candidato preferido no campo oposicionista para enfrentar o atual mandatário na disputa pela vaga de Presidente da República. Ninguém conseguiu ainda crescer o suficiente para lhe tirar essa condição, diz o DataFolha.

Da mesma forma, e no outro campo da disputa, o que o povo está dizendo, neste momento, é que o presidente Jair Bolsonaro deve representar a direita. No entanto, também o povo está dizendo que essa candidatura à droite não tem mais o mesmo apelo que teve em 2019. Mais do que isso, o povo está dizendo que, se as eleições fossem hoje, o vencedor seria muito provavelmente o ex-presidente Lula.

Aos bunkers respectivos cabem análises mais profundas sobre as razões de uma e de outra situação. Dessa maneira, apontando ações que visem mudar ou manter ou aumentar números respectivos. Porém, a realidade não pode ser contestada e quem o fizer somente vai contribuir para ou piorar a situação ou se manter em cima de uma omissão perigosa, do tipo dormir em berço esplêndido, o que simplesmente pode terminar em grandes decepções.

Mas, os números são esses que estão aí e convém levar o DataFolha a sério.

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