2 de julho de 1823: a independência da Bahia

Em 2 de julho de 1823, quase um ano depois do 7 de setembro de 1822, é que o povo baiano, em armas, promoveu a independência da Bahia: e muito mais guerra houve pelo país afora


Sérgio Botêlho – Quando em 1888 o pintor paraibano Pedro Américo entregou a Dom Pedro II o quadro ‘Independência ou Morte’ (também conhecido como ‘O Grito do Ipiranga’), estava criando para a posteridade o grande flagrante do ato de independência do Brasil em relação a Portugal.
Não importava, como insistem obstinados estudiosos, que não deveria haver cavalos no cenário, mas, burros, apenas (para aguentar o trajeto), nem que Dom Pedro I, sofrendo de males intestinais, não estivesse assim tão disposto fisicamente e em traje de gala para estar garboso daquele jeito.
Cuidava o areiense Pedro Américo, com toques de realismo clássico, conceder à figura de Dom Pedro I o porte de herói definitivo do mais relevante ato de criação do Brasil independente, entrando tudo ao seu derredor como figuração e adorno.
Até o povo aparece no quadro de Pedro Américo, na figura de um atônito homem do campo que, tocando o seu carro de boi carregado de madeira, assiste ao grito de ‘Independência ou Morte’ com jeito de não estar entendendo nada daquilo.
Dessa forma, o quadro de Pedro Américo, por conta de sua copiosa divulgação, em todos os quadrantes do Brasil, das escolas às universidades, dos ambientes públicos aos privados, acabou servindo para encobrir outras histórias paralelas, porém de elevada importância ao processo de separação entre Brasil e Portugal.
Isso porque a libertação do Brasil do jugo da Coroa Portuguesa não se limitou ao grito de ‘Independência ou Morte’, efetivado sob pressão intensa da opinião pública, da Corte e de dona Maria Leopoldina, esposa de Dom Pedro e artífice mais destacada de todo o processo. Muito sangue rolou pelo país afora.
Até o desfecho da ruptura, aconteceram confrontos terríveis, em várias partes do Brasil, e o povo foi à luta, de forma aguerrida e decisiva, resultando em milhares de mortes de brasileiros, parte delas executada de forma vil pelos representantes do governo lusitano.
Lutas houve especialmente no Pará, na Bahia e no Piauí. Mas, também no Ceará, em Sergipe e em Alagoas. Governos locais ainda fortemente vinculados a Portugal reagiram ferozmente contra a independência do Brasil. E mataram muita gente antes de darem no pé.
Contudo, nesse breve texto, quero me prender a fatos que têm na data de hoje, 2 de julho, a sua máxima expressão temporal, quando, em 1823, o povo baiano, com massiva participação de negros e índios – com ajuda imperial, claro! – expulsou os lusitanos do seu território.
Foi do conflito pela independência do Brasil, na Bahia, que emergiram heróis inextinguíveis da história do Brasil, como são os casos de Maria Quitéria, Joana Angélica, Índio Bartolomeu e Maria Felipa, todos diretamente em confronto com o poder de fogo português.
Maria Quitéria, qual uma Joana D’Arc brasileira, empunhando armas, inicialmente, no papel de homem, mas, após descoberta, seguindo como guerreira mulher, mesmo. Joana Angélica, assassinada pelos soldados portugueses na entrada do convento de que era a madre superiora. Índio Bartolomeu, liderando guerreiros indígenas flecheiros e fundamentais na guerra. E Maria Felipa, negra livre e disposta, liderando outras dezenas delas, empunhando peias de urtiga, no desmantelamento de importantes segmentos das tropas portuguesas, com astúcia e determinação.
Pelo volume e importância dos acontecimentos históricos, a independência da Bahia é comemorada com intensa participação popular, hoje, na capital Salvador, em um cortejo que consagra as principais figuras de toda essa história bela e muito nacional.
Do desfile participam e recebem louvações figuras indígenas e negras, mulheres, vaqueiros, todos gente do povo. A luta pela independência da Bahia é, pois, o assunto de hoje do povo baiano, que comemora a data com justificada empolgação.

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