Na volta, o sentimento do mundo
Sérgio Botêlho
Acorda bonito o dia! Ainda mais porque se avizinha o retorno de nossos dois netos pequenos que foram passar uns dias na querida João Pessoa. Com isso, retomamos parte fundamental de nossa alegria, minha e da avó, e também das tias.
A distância entre as pessoas que a gente se acostumou e aprendeu a amar faz um mal danado. Ainda que por pouco tempo, assim. A sensibilidade humana, certamente, tem estado bem mais aguçada nesses momentos bicudos que trilhamos.
Além dos sufocos pessoais de cada um e de todos, me refiro à pandemia, que nos impôs o medo como nunca na nossa história mais recente. Um medo que acabou nos conduzindo, imediatamente, ao restrito núcleo de dois ou três bem mais próximos, da família, mesmo.
Na ampla maioria dos casos, os netos ficaram distantes, por recomendação da ciência. Bem mais recentemente, a distância dos pequenos foi sendo reduzida, por obra e graça também da ciência que nos trouxe a vacina capaz de enfrentar o vírus solto na buraqueira.
Desse jeito, também as férias se tornaram possíveis, e lá se vão os netos de novo, o que é inevitável de ser, assim, pois há família também por outras plagas. A volta, portanto, se transforma em algo ainda mais desejado e festejado, como é o nosso caso.
E não para por aí. Gradualmente – embora, mais subitamente, a cada dia – vamos conhecendo, pelas mãos, mais uma vez, da ciência, dos perigos que a Terra enfrenta por força da impiedosa ação humana, que parece não ter freios.
Justiça se faça a uma parte gloriosa da inteligência humana, que se preocupa com os alertas científicos, que fala da destruição da raça. Mas, muito infelizmente, temos de conviver com os negacionistas que ignoram todos os alertas.
Junto com a pandemia – por si só, um possante aviso do desequilíbrio ambiental – suportar, sem dor aumentada, o palavrório inconsequente dos que resolveram batalhar ao lado da ignorância, tornou-se doloroso demais.
Portanto, ao lado da convivência familiar, numa busca desesperada por proteger os bem menores, herdeiros mais prejudicados do caos que vem se impondo à humanidade, cada afastamento é ainda mais sentido.
Assim, aos que podem – e todos podem – convém batalhar pelo respeito à ciência, sem se afastar dos seus, evidentemente, por pura necessidade de receber e distribuir amor, um sentimento cada vez mais ridicularizado pelos loucamente negacionistas.
Como se tudo isso não bastasse, a pátria vive, nesse instante, um período particularmente desesperador. Estamos diante de um governante que não encontra paralelo em desvario nem no Império nem na República do Brasil. Não há semelhança alguma de comparação.
No espaço internacional, ele se junta com amor febril aos negacionistas, pugnando pelo desrespeito à ciência e seus estudos e recomendações. No espaço interno, cuida de espalhar o desaguisado e a incerteza no futuro.
Não é possível comparar as idiossincrasias do presidente nem mesmo a qualquer dos que fizeram plantão no Palácio do Planalto durante a recente, e de triste memória, ditadura entre os anos de 1964 e 1988.
Mais terrível ainda é saber que seus mandos e desmandos arregimentam milhões de brasileiros que, embora cada vez em menor número, se esmeram na defesa de sua figura, nas ruas e nas redes sociais, prometendo como benefício final, o obscurantismo e o caos.
São tempos ruins os que vivemos, no país, com olhos voltados para o mundo e para o futuro. Tempos que não nos exime, sendo a isenção, um crime, de dedicar especial atenção no combate a uma realidade tão perversa.
Mas, que também não nos permite evitar um apego do mesmo jeito enorme ao ambiente familiar, e, principalmente, a esses pequenos que, afinal, são os que mais correm perigo e, por conseguinte, maiores beneficiários da luta que empreendemos, agora.
Salve os netinhos que estão de volta!