MEMÓRIA PESSOENSE: Pascoal Carrilho

Sérgio Botêlho
 O rádio paraibano possui figuras históricas que ainda hoje motivam conversas saudosas e enchem de curiosidade os que fazem mídia no estado. Motivos variados fizeram a fama de muitos profissionais que passaram pelos microfones da Tabajara, da Correio ou da Arapuan. 
 A rádio Tabajara, especialmente, tem a maior reserva histórica desses profissionais. Com certeza, por ser a mais antiga e a que experimentou tempos memoráveis de glória na chamada Era do Rádio.
 (Abro um parêntesis para lamentar a pouca preocupação dos que faziam rádio na Paraíba em preservar a própria história. Há uma dificuldade enorme quando se trata de buscar gravações sobre a passagem dessas figuras relevantes pelos microfones da radiofonia paraibana. Aqui e acolá você encontra alguma coisa preservada com vozes e momentos importantes do nosso rádio. É comum, no entanto, nada ser encontrado sobre essas passagens históricas. A maioria das histórias é preservada pela chamada memória oral).
 Pois bem. Nas décadas de 40, 50 e 60 do século passado pontificou no rádio paraibano, precisamente na rádio Tabajara, um radialista de marca maior e histórias deliciosas e fantásticas chamado Pascoal Carrilho. Dele, contam-se dezenas de situações em que o profissionalismo se misturava com romantismo, saudável amadorismo e agudo senso de humor.
 Um dia entrevistei (eu comandava um programa aos sábados chamado Cultura e Lazer) nos microfones da Tabajara o nosso saudoso Golinha, dos Mirandas, outro que fez época na história de João Pessoa, ele e seu irmão Floriano, à frente dos Quatro Loucos. Na oportunidade da entrevista, Golinha estava acompanhado de Hugo Guimarães (Huguinho), que também militou no conjunto Os Gentleman, na mesma época dos Quatro Loucos. Durante a conversa no ar, ao vivo, Golinha contou histórias extraordinárias e hilárias do nosso herói Pascoal Carrilho.
 Uma dessas histórias, que terminaram provocando gargalhadas intermináveis no estúdio, foi a seguinte: Quando a Tabajara ainda funcionava ali na esquina da Palmeiras (Rodrigues de Aquino) com a Almeida Barreto havia uma íngreme escadaria que levava aos estúdios, no segundo andar do prédio da rádio. Vizinho à emissora funcionava providencial barzinho com tira-gostos de livrar, qualquer um, das preocupações de tempo e espaço. Bem perto da hora de entrar no ar o seu programa, Pascoal ainda se deliciava com uma branquinha amparada num caldinho de feijão.
 E a turma gritava lá de cima: – Pascoal, o programa vai entrar no ar!
 Pascoal pedia calma e ao mesmo tempo uma saideira.
 – Pascoal, não dá mais tempo!
 – Espera aí, rapaz!
 E em cima da hora, Pascoal subiu desembalado a escadaria de quase 90 graus. Quando entrou no estúdio, acendeu a luz vermelha: NO AR.
 E, aí, ele, ofegante, improvisou um testemunhal sobre penicos: – Caaagaaar a gente caaaga em toodo caaanto. Agoora, caaagar com cooonfoorto sóóó nos peniiicos (aí, deu a marca dos penicos, que não consigo lembrar, agora). kkkkkkk
 Imagine o terror na direção da rádio.
 Mas, afora esses lances folclóricos, junto a muitos outros atribuídos a Pascoal Carrilho, ele comandou durante muito tempo programas de estúdio e de auditório na Rádio Tabajara, tendo recebido nomes famosos da Era do Rádio no Brasil. 
 Dessa forma, a fama de Pascoal Carrilho ultrapassou as divisas da Paraíba e do Nordeste, se estendendo ao Sul e ao Sudeste do país. Assim, o espírito pessoense é impossível de ser devidamente apreendido sem que figuras como Pascoal Carrilho, e suas histórias, sejam lembradas.

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