Sérgio Botêlho
“Amélia não tinha a menor vaidade. Amélia é que era a mulher de verdade”. Esta é uma das composições mais tocadas da Música Popular Brasileira. Chama-se “Ai! Que saudade da Amélia”, de autoria de Mário Lago e Ataulfo Alves. Originalmente gravada pelo último, em 1942, com sucesso imediato.
Submissão
“Às vezes passava fome ao meu lado e achava bonito não ter o que comer”. É o que diz outro trecho da obra, cuja letra é de autoria de Mário Lago, mesmo. Ataulfo acrescentou uns termos e musicou a poesia. “Quando me via contrariado dizia: Meu filho o que se há de fazer!”. Para a maioria dos analistas, um estímulo à submissão feminina.
Mas, não era o que os autores diziam sobre a letra. Para Ataulfo, Amélia “simboliza a companheira ideal, que luta ao lado do marido, vivendo de acordo com suas possibilidades”. No entanto, não foi esta a interpretação que ficou consagrada pela história. Tanto assim, que outras composições, de caráter feminista, duelaram com Amélia.
Mário Lago
A figura histórica de Mário Lago, no entanto, não condiz com a leitura da Amélia submissa. Militante comunista desde sua juventude, Lago sempre foi defensor da igualdade. Por suas ideias, foi preso, segundo a Wikipedia, em 1932, 1941, 1946, 1949, 1952, 1964 e 1969. Advogado, foi mesmo na vida artística que conduziu sua vida.
Lago nasceu em 26 de novembro de 1911 e morreu em 30 de maio de 2002, com 90 anos de idade. Nasceu, viveu e morreu na cidade do Rio de Janeiro, onde foi radialista, ator, escritor, poeta e compositor. Outra música de Mário e Ataulfo que ficou para posteridade foi Atire a Primeira Pedra. “Atire a primeira pedra, ai, ai, ai, aquele que não sofreu por amor”.
Sucesso
O sucesso para o público nacional veio, para Mário Lago, com sua participação em novelas da Globo. Contudo, além de Amélia e Atire a Primeira Pedra, há outras parcerias famosas do artista. Podem ser citadas: Aurora, Nada Além e Fracasso. No cinema participou das produções O Padre e a Moça, Os Herdeiros e Pedro Diabo Ama Rosa Meia-Noite.
Mário Lago também escreveu livros, entre eles, Chico Nunes das Alagoas (1975), Na Rolança do Tempo (1976), Bagaço de Beira-Estrada (1977) e Meia Porção de Sarapatel (1986). Ainda em vida, foi homenageado, em 2001, pela Escola de Samba Acadêmicos de Santa Cruz. Hoje, empresta seu nome ao teatro do tradicional Colégio Pedro II, onde estudou, e ao Troféu Mário Lago, que premia, anualmente, os grandes nomes da teledramaturgia, no Faustão.
Portanto, Mário Lago é mais uma postagem da série memórias de cada dia, do Para Onde Ir.