Sérgio Botêlho – A Mata do Buraquinho, em João Pessoa, representa ao maior remanescente da Mata Atlântica em área urbana, do país, superando, como tal, a Mata da Tijuca, no Rio de Janeiro, que não é propriamente remanescente, mas recuperada
“A Mata do Buraquinho (…) corresponde ao maior remanescente de Mata Atlântica em área urbana do país, completamente cercado pela densa matriz urbana da cidade de João Pessoa, capital e maior cidade do Estado da Paraíba. A Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, possui uma área superior, entretanto não se caracteriza como um remanescente por não ser uma área natural, uma vez que já foi completamente devastada e posteriormente recuperada”.
E-BOOK GRATUITO: Praias urbanas da Grande João PessoaA conclusão é da equipe de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba, Nádson Ricardo Leite de Souza, Vanessa Vasconcelos da Silva, Edson Henrique Almeida de Andrade e Valeria Raquel de Lima, publicada sob o título “Análise dos Efeitos da Borda na Mata do Buraquinho, João Pessoa, Paraíba”, em setembro de 2019, na Revista da Casa da Geografia de Sobral. O objetivo do estudo foi o de avaliar os impactos ambientais das bordas “no contato com a densa urbanização do entorno”, além das trilhas abertas na mata.
A Mata do Buraquinho, que hoje compreende o Jardim Botânico Benjamin Maranhão, possui uma área equivalente a 517,80 hectares (ha), que estão limitadas a leste e sul pela BR-230, ao norte pela Avenida Dom Pedro II, e a oeste pelos bairros do Cristo Redentor Varjão e Jaguaribe, todos inseridos no município de João Pessoa/PB. Para efeito de comparação, a Floresta da Tijuca, também composta de vegetação característica da Mata Atlântica, registra uma área maior, contudo, inteiramente recuperada após completa devastação.
A história da Mata do Buraquinho acompanha toda a trajetória da capital paraibana e, durante todo o tempo sofreu importantes intervenções, a maioria para o mal, representando degradação e redução daquele espaço. As maiores intromissões, como não poderia deixar de ser, foram de responsabilidade humana, frutos do crescimento demográfico desordenado e que resultaram na supressão de largas áreas da área de mata, degradação de outras partes e poluição do rio que corta a reserva: o Rio Jaguaribe.
Originalmente chamada de Jaguaricumbe, cujos limites chegavam até o atual Palácio da Redenção, o sítio acabou sendo comprado pelo estado para a implantação do primeiro sistema de abastecimento d’água da Cidade da Paraíba, que começou a funcionar em 1912. Até essa época, a capital paraibana sofria horrores com a falta de abastecimento d’água seguro, o que expunha sua população a todos os tipos de doenças e endemias e surtos das mais diversas moléstias. Situação piorada pela falta de saneamento básico em toda a cidade.
Embora não tenha conseguido encerrar os perigos que cercam a Mata do Buraquinho, desde o ano 2000 que foi criado o Jardim Botânico Benjamim Maranhão, com 343 ha. A ação governamental permitiu a existência de uma vigilância maior por parte do Batalhão da Polícia Militar Ambiental e, portanto, de maiores garantias contra as ações predadoras na mata. O que não impede a continuidade da poluição do Rio Jaguaribe e as pressões urbanas sobre a reserva numa cidade que continua a crescer a cada dia.
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