Sérgio Botêlho
É raro conhecer um noctívago pessoense que não saiba ao menos uma estrofe da poética de Augusto dos Anjos. Ali, pela 5ª rodada de chope, nas noites de João Pessoa, sempre aparece alguém para declamar alguma coisa do poeta.
“Vês! Ninguém assistiu ao formidável enterro de sua última quimera. Somente a Ingratidão – esta pantera – foi tua companheira inseparável!”. Esta é a primeira estrofe de Versos Íntimos, a preferida pelos boêmios da capital paraibana.
Geralmente, algum dos convivas, de repente, em meio aos goles de cerveja, emposta a voz e em tom grave começa a recitação. A voz torna-se ainda mais grandiloquente quando repete uma das estrofes mais conhecidas de Versos Íntimos.
É a que proclama: “Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, a mão que afaga é a mesma que apedreja”. Nesse ponto, então, a tertúlia ganha ares de intensa dramaticidade.
Pois bem, sobre o estilo sombrio de Augusto dos Anjos, os críticos discutem, desde sempre, em que escola literária enquadrá-lo. Para uns, parnasiano, para outros, simbolista, e para outros, ainda, um pré-modernista. Para todos, um pessimista que muito usou o cientificismo em suas elaborações poéticas.
Essas características da poesia de Augusto dos Anjos, contudo, deixam espaço para construções líricas, embora sorumbáticas, conforme lhe é comum, que emocionam. É quando ele homenageia o pé de tamarindo que deu sombra às suas brincadeiras de criança e divagações da juventude.
Diz Augusto em “Debaixo do Tamarindo”:
“No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei biliões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!
Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da Flora Brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!
Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,
Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui!”
Aqui para nós: é bonito ou não?
Ex-professor do Lyceu Paraibano, Augusto dos Anjos é patrono da cadeira número 1 da Academia Paraibana de Letras. Mas, também é o patrono da Academia Leopoldiniense de Letras.
Nascido no Engenho Pau D’Arco, na cidade de Sapé-PB, em 20 de abril de 1884, Augusto dos Anjos faleceu em Leopoldina-MG, em 12 de novembro de 1914, em virtude do agravamento de uma tuberculose, na época, de dificílima possibilidade de cura.
Assim, neste 12 de novembro de 2019, há 105 anos da morte de Augusto dos Anjos, fica a nossa homenagem. Homenagem de um paraibano que, assim como tantos noctívagos, já recitou muito Augusto dos Anjos nas noites pessoenses.
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