Até a explosão da caldeira!

Sérgio Botêlho

Embora bastante contestado, está em reta final de debate o projeto que consolida a mais nova revisão do Plano Diretor da capital paulista. A votação está prevista para acontecer na próxima semana, na Câmara Municipal de São Paulo.

Em meio a demandas populares por mais discussão sobre o assunto, a proposta que deve ir à votação consolida, na cidade, uma perspectiva de adensamento populacional (leia-se edifícios mais altos). Assim, em áreas mais próximas de corredores de ônibus e estações de metrô.

Esse tipo de compreensão já existe hoje com respeito à urbe paulistana. Dessa forma, até cerca de 600 metros desses corredores de ônibus e estações de metrô. Agora, o projeto quer ampliar a permissão de edifícios mais altos para até 1 quilômetro, em tais situações.

O mecanismo expõe um arranjo cada vez mais buscado no que diz respeito ao sistema de transporte combinado com o de moradia das grandes cidades. Em função de alegadas dificuldades (financeiras e de logística, principalmente) inerentes a projetos de ampliação, o jeito é inverter as alternativas de solução.

No caso, ao invés de ampliar o metrô, de aumentar a frota de ônibus, de construir alternativas de meios de transporte, o objetivo da prefeitura de São Paulo passa a ser o de mover a população para perto desses corredores e estações.

Em São Paulo, por conta dessa política urbana, multiplicam-se os prédios em que os apartamentos são cada vez menores. Estou falando de apartamentos de cerca de 27m². Os de 45m² ficam na categoria de verdadeiro luxo.

A disputa por essas moradias envolve gente já estabelecida em locais mais distantes e que sofrem com o tempo de trajeto entre a residência e o local de trabalho. E, ainda, novos compradores de moradias, e inquilinos, que preferem morar com aperto, contudo, perto do transporte.

É evidente que mais próximo do que se imagina essa lógica vai esgotar. Não apenas pelo afadigamento das áreas urbanas como, em função disso, pelo crescimento paulatino dos preços de imóveis nessas condições.

Diante de tal realidade, outra vez os mais pobres serão os que mais irão sofrer, porque morando longe, em condições sempre críticas de existência, estarão cada vez mais impossibilitados de almejar a ampliação dos sistemas de transporte da cidade e, portanto, melhorar de vida.

Tenho certeza de que do lado do poder público municipal a alternativa representada pelo adensamento das populações nesses corredores de transporte, o que somente pode acontecer em bairros atualmente ocupados pela classe média, não significa alívio.

Por esse caminho, somente haverá um povo feliz na história: os donos das grandes construtoras. São eles que têm a possibilidade de comprar terrenos caríssimos nessas áreas privilegiadas para a construção de espigões com áreas super aproveitadas.

E não são apenas terrenos vazios os objetos de cobiça desses incorporadores. Quarteirões inteiros em São Paulo, onde estão construídos prédios de até 10 andares, repletos de moradores proprietários, estão sendo comprados para derrubada e construção de edifícios mais altos. É muta bufunfa!

Fica evidente que o atual sistema econômico de tipo capitalista avassalador somente vai fazer com que haja cada vez mais diferença social nas grandes cidades.

Nessa cadência, os cinturões de pobreza tendem, na mesma proporção que crescem, a aumentar a pressão sobre o poder público, demandando gastos com políticas de atendimento social e segurança, e perpetuando a miséria.

Até a caldeira social explodir!

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