Apostando na democracia

Sérgio Botêlho – Com entusiasmo, assisti ontem à estreia na Rede Globo de Televisão, via Jornal Nacional, de uma série que a emissora começa a veicular, a partir de seu departamento de jornalismo, sobre a Constituição de 1988 em face das liberdades democráticas.

Até então (1988), o país vivia um regime ditatorial de tipo militar instalado no país desde abril de 1964, depois que o presidente constitucionalmente eleito, João Goulart, foi deposto por meio de um golpe, que fez o Brasil mergulhar no autoritarismo.

Nascido em 1950, eu, por exemplo, somente consegui votar para a Presidência da República aos 39 anos, em 1989, justamente no ano posterior à Assembleia Constituinte comandada pelo saudoso Ulysses Guimarães.

Segundo informou na abertura do primeiro episódio, a Globo seguirá, nos próximos dias, a veicular histórias envolvendo a Constituição de 1988 e a Democracia, com reportagens e depoimentos, visando mostrar a importância do Estado de Direito para o país.

Há duas coincidências a se destacarem em meio à decisão da Globo em abordar mais amplamente o assunto: o processo eleitoral em curso e os constantes ataques à democracia repetidos por forças ligadas ao governo federal do momento.

Com efeito, não existe universo melhor para abordar os valores constitucionais e democráticos do que em meio a um processo eleitoral onde os embates tendem a escamotear a questão e, até, dispensá-la, em função da peleja.

Podem os adversários da democracia estarem pregando em meio a uma população jovem não devidamente informada a respeito do assunto ou a um povo sofrido e revoltado com a situação econômica e social, ambos mais aderentes a cantilenas dessa qualidade.

Portanto, ao investir tempo, dinheiro e espaço na produção e divulgação de um assunto tão relevante para o país, como é o caso do fortalecimento da democracia, merece aplausos a iniciativa da referida empresa de comunicação.

Consciência

Certamente, o que nos alivia mais é o resultado de algumas pesquisas de opinião pública divulgadas nos últimos dias, que mostram cabalmente que a democracia é opção bem majoritária na sociedade brasileira.

Na sexta-feira, 19, o instituto Datafolha revelou que 75% dos brasileiros acreditam que a democracia é sempre melhor que qualquer forma de governo, e apenas 7% admitiram a ditadura como melhor em certas circunstâncias. Um banho democrático!.

No último sábado, 27, foi a vez do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgar outra pesquisa mostrando que 84% dos policiais civis, militares, federais, penais, guardas civis e bombeiros militares em todos os Estados e Distrito Federal defendem a democracia. Novo banho democrático!

No mesmo sentido, entre os principais segmentos empresariais brasileiros reina absoluta a certeza de que o regime democrático em sua plenitude colabora estreitamente com o progresso econômico, uma vez que é gerador de um ambiente efetivo de segurança institucional.

Importa aos empresários o conhecimento de que a ampla maioria dos países economicamente mais desenvolvidos do mundo, tanto liberais quanto social-democratas, vive, há bastante tempo, regimes que se caracterizam pela plenitude do Estado Democrático de Direito.

Também nas Forças Armadas, seus comandantes continuam expondo a preferência pelo regime democrático, quando buscam afastar qualquer projeto de retorno a uma condução autoritária no país.

Apesar de tudo, é preciso cada vez mais insistir na formação constitucionalista da população brasileira, aos moldes do que agora faz a Rede Globo de Televisão. Consolidar a consciência democrática deve ser sempre uma prioridade geral.

Democracia, sempre!

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