“Deus é paciência. O contrário é o diabo”, dizia Guimarães Rosa, falecido em 19 de novembro de 1967. Breve registro

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Sérgio Botêlho

Não há nenhum escritor brasileiro que tenha subvertido mais a língua portuguesa do que o mineiro de Cordisburgo João Guimarães Rosa. Tanto assim que não é demasiado afirmar que a língua de Camões tem na obra de Guimarães Rosa um marco de reinvenção, quando imbricada em sua textura a linguagem dos sertões brasileiros.

É tão relevante o papel do autor de Grande Sertão: Veredas no desenvolvimento da língua portuguesa que, pouco antes de morrer, de forma prematura, o escritor foi indicado para o Nobel de Literatura. Sua morte, portanto, além de se constituir numa grande perda para a literatura brasileira, foi um azar para a aspiração do Brasil em ter um escritor laureado pela Academia sueca.

Pois, em 19 de novembro de 1967, três dias após ter tomado posse na Academia Brasileira de Letras, um infarto fulminou João Guimarães Rosa. Curiosidade: apesar de ter sido eleito (anote-se, por unanimidade) em 1963, Rosa somente tomou posse na cadeira 2 (fundada por Coelho Neto e tendo como patrono Álvares de Azevedo), 4 anos depois. Motivo: medo de morrer de emoção.

Reinventando a língua

“Melhor, se arrepare: pois num chão, e com igual formato de ramos e folhas, não dá mandioca mansa, que se come comum, e a mandioca-brava, que mata? Agora, o senhor já viu uma estranhez? A mandioca doce pode de repente virar azangada – motivos não sei; às vezes se diz que é por replantada no terreno sempre, com mudas seguidas, de manaíbas – vai em amargando, de tanto em tanto, de si mesma toma peçonhas. E, ora veja: a outra, a mandioca-brava, também é que às vezes pode ficar mansa, a esmo, de se comer sem nenhum mal. (…) Arre, ele (o demo) está misturado em tudo”.

Eis um trecho emblemático de Grande Sertão: Veredas, onde, qual processador de palavras, Guimarães Rosa vai misturando as falas dos sertões com as das cidades, garantindo novos significados à língua e forçando o leitor a sair da zona de conforto em que talvez preferisse permanecer. Contudo, Guimarães não deixa, mas de jeito nem maneira.

Principais obras de Guimarães Rosa

Magma (1936)

Sagarana (1946)

Com o Vaqueiro Mariano (1947)

Corpo de Baile (1956) dividida em três novelas: “Manuelzão e Miguilim”, “No Urubuquaquá, no Pinhém” e “Noites do sertão”.

Grande Sertão: Veredas (1956)

Primeiras Estórias (1962)

Campo Geral (1964)

Noites do Sertão (1965)

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